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terça-feira, julho 20, 2010

No Entardecer dos Dias de Verão

No entardecer dos dias de Verão, às vezes,
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um momento, uma leve brisa...
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria...
Ah, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem!
Fôssemos nós como devíamos ser
E não haveria em nós necessidade de ilusão ...
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida
E nem repararmos para que há sentidos ...
Mas graças a Deus que há imperfeição no Mundo
Porque a imperfeição é uma cousa,
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o Mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma cousa a menos,
E deve haver muita cousa
Para termos muito que ver e ouvir ...

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XLI"
Heterónimo de Fernando Pessoa

2 comentários:

Anónimo disse...

Se este Senhor não tivesse tido uma "panka" tão grande, não teria sido tão grande na arte de bem escrever e pensar.
Estou de arcordo que, quando não houver imperfeições no mundo ( e isso vai acontecer) será tudo muito monotonamente bom e bonito e haverá muita criatura que não gostará ...Quem sabe se eu mesminha, se tiver a sorte de lá chegar?...
Há dias assim...
Abraços
Fbbc

Anónimo disse...

Sempre muito complexo e a exigir reflexão! Sinto neste poema uma ironia!

LP