Cavaco Silva perdeu o sentido de oportunidade da sua palavra, alimenta suspeições e não sabe cuidar do bom-nome das instituições. Se assim continuar não estará à altura das responsabilidades. Se alguém tenta puxar o Presidente para a luta político-partidária, o Presidente tem a obrigação de se demarcar imediatamente. Seria esse o seu contributo para a transparência do processo eleitoral. Não é o silêncio calculista.

Se alguém em seu nome diz aos jornais que o gabinete do primeiro-ministro anda a espiar o Presidente ou, mais prosaicamente, que em Belém se desconfia do partido do Governo, das duas uma: ou é verdade e o Chefe do Estado tem de agir imediatamente em nome da legalidade e da idoneidade das instituições democráticas; ou é mentira e deve vir a público dizê-lo com clareza.

Ora o que Cavaco Silva fez foi assistir impávido à publicação de notícias, invocando o seu nome, sem se dignar tomar posição, espalhando a suspeita ao mais alto nível do Estado. Como é possível que o Presidente ache normal que um membro da sua Casa Civil espalhe suspeição e desconfiança sobre o Governo que mantém em funções? A notícia ocupou quase por inteiro a primeira página do Público e não merecia um reparo? Como é possível dizer que «tem sérias dúvidas quanto à veracidade das afirmações» contidas no email que o aponta como autor moral de uma manobra sombria que visava desacreditar o Governo? Dúvidas podemos ter nós, Cavaco Silva tem de ter certezas. Tem de estar à altura de nos garantir que o conteúdo do email é falso. E não o fez.

Ficámos ainda a saber o valor exacto do rigor presidencial. Se alguém da Casa Civil envolve Cavaco Silva numa maquinação grave, o castigo é mudar de gabinete… Esclarecidos. A trapalhada é enorme e revela pouco sentido de Estado.

A publicação do email do Público no Diário de Notícias fê-lo sentir inseguro. Ontem, na véspera de finalmente falar ao País, o Presidente concluiu que os computadores de Belém são vulneráveis… A suspeita e a insinuação continuam. Não tardará que alguém lhe devolva uma frase célebre nos anos 90: É preciso ajudar o senhor Presidente da República a terminar o seu mandato com dignidade.