Surge Outubro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.
Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.
E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,
Também faz o pequeno sacrifício
De trinta contos só! por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.
JOSÉ RÉGIO
Soneto (quase inédito), escrito em 1969 no dia de uma reunião de antigos alunos.
Tão actual em 1969, como hoje.
5 comentários:
Estas situações não deviam ser repetíveis, nem em poesia! Tenho a língua cheia de cortes (trincadelas) de ter dito mal de outros tempos. Parafraseando Jô Soares "Que mais nos irá acontecer?". Espero e desejo que mais nada, a conta já vai longa!...
Abraços
Fbbc
A História repete-se normalmente no que tem de pior! :-((
Abraço
O orçamento já não é só uma novela, antes vai a caminho de uma tragédia, de que fantoches e biltres parecem não tomar consciência e tornando o futuro mais difícil. Tem é que se impedir que a fome estiole o povo, como diz o autor.A história repetindo-se, não se repete da mesma maneira. É aí que fica a margem para que mude para melhor - sendo certo que algo tem que mudar.
É um pesar constatar-se que aspectos negativos da História se repetem ciclicamente e que os homens que regem os destinos do povo não têm aprendido a lição.
O poema do José Régio podia ter sido escrito hoje, tal é, infelizmente, a sua actualidade.
LP
Creio que genialidade da escrita, seja prosa ou poesia, fruto da lavra de talentos, reside no facto de ser intemporal, isto é, ela é sempre actual!!... nalguns casos, como neste, "para mal dos nossos pecados", como é corrente dizer-se lá pelas nossas terras!!....
Pena é que a História se repita no que ela "conta" de mais negativo!!... ou então os "decisores" não sabem História!!.. quem sabe!!??... talvez não!!.... ("salvo raras e honrosas excepções", parafraseando o nosso vice-reitor, F.Faria, e meu professor de matemática).
JAF
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