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quarta-feira, novembro 07, 2007

Grandes Beneméritos...

A SANTIDADE DOS PATRIOTAS Baptista-Bastosescritor e jornalistab.bastos@netcabo.pt DN de hoje

Fiquei grandemente enternecido com o estremecimento patriótico que tem percorrido alguns bondosos agrupamentos financeiros, logo-assim ressurgiu a ideia de construção do novo aeroporto de Lisboa.
Atreita a descobrir razões e motivos para aplaudir ou excomungar, a sociedade portuguesa vai tomando confuso partido por um ou por outro dos desinteressados grupos. Acentuemos a nobreza dos pensamentos e a clara distinção dos discursos: tanto os que defendem a Ota como os que pleiteiam a causa de Alcochete são desvelados patriotas e absolutamente alheios ao feio sentimento da ganância.
No remanso agasalhante dos seus gabinetes esses homens consomem as meninges, arregimentam olheiras, arquejam de cansaço - apenas com o desígnio exaltante de se sacrificar pela pátria bem-amada.Preocupa-os a depressão que nos assola, a nós, arraia-miúda; martiriza-os a desdita do nosso destino, a deterioração da nossa qualidade de vida. Arejam os crânios com pensamentos alevantados, caucionados pelos juízos simples e pelas consciências rectas.Pouco se sabe quem são.
Dar outros nomes aos nomes apenas significa modéstia, discrição, orgulho pátrio. Ambos os grupos já gastaram rios de dinheiro em planos, estudos, esboços, gráficos, monografias, análises, testemunhos, depoimentos, exames, investigações. Desinteressadamente, como se sabe. Ambos os intervenientes conclamam: a minha proposta é melhor do que a tua. Ambos os intervenientes afirmam-se eivados de santas razões e de imaculados propósitos. São impulsionados pelo mesmo ímpeto venturoso que acumulou glórias e saudáveis episódios abençoados por todas as Virgens conhecidas.
A melodia dos desinteressados toca os corações desprevenidos. Quando se soube que o Governo pendia para a Ota, indiscutível e inexoravelmente, a especulação imobiliária foi desencadeada. Mário Lino, dramático e seguro, levemente irado, abertamente decisivo, transformou o jamais francês no estandarte de todas as vitórias. Quando foi apresentada a proposta de Alcochete, argumentativamente muito mais económica, os protestos e os apupos chegaram de alguns pontos cardiais. Mário Lino, calmo como um ser isento de maus costumes, ainda não leu o documento da CIP, diz que vai ler; ao que parece, ninguém o leu ainda.
A santidade dos indomáveis patriotas da Ota e de Alcochete, a devoção inextinguível da sua entrega, o piedoso ardor dos seus discursos, a profundidade da sua filantropia, o penoso fardo que transportam - comovem até às lágrimas.
Nunca lhes agradeceremos bastante o grande consolo que nos têm ministrado, com a galante vontade de nos servir a todos. Eles, coitados!, não querem nada. Entre a Ota e Alcochete, venha o LNEC e escolha.
Grandes beneméritos que há no n/País !!!!

2 comentários:

Anónimo disse...

Sem querer polemizar,direi que desde Abril de 74 que os que agora oferecem estudos caríssimos vêm minando as possibilidades de se criar neste país um poder político independente dos grupos económicos.Manobrando onde é necessário e conveniente; associando -se a quem lhes possa dispensar a força que não tinham; explorando as contradições das agremiações políticas em favor dos seus próprios interesses com paciência de Job que quer voltar a ter o que já perdeu, vão ganhando grão a grão até que aparecem como beneméritos.
Nada disto é novo, muito menos em termos mundiais, mas é algo desanimador ouvir estes cantares de
quem parece não ter nada a ver com o caso.Os sucessos de uns não terão a ver com cumplicidades, actos e
incapacidades de outros?

Anónimo disse...

Que ninguém se iluda! Esta "política ", de pólis, à volta do futuro aeroporto já enoja! Os interesses económicos espreitam sorrateiramente aquilo que mais lhes convém. Infelizmente,podemos contar pouco com a seriedade que nos deveria ser transmitida e à qual temos direito! Mas...todos eles... apenas pensam no seu umbigo. Quem tem que aturar as "golpadas" somos nós,o povo... que nada entende por que eles os "tubarões" também não querem que entendamos.
Este país perdeu a vergonha!
Mesmo aqueles em que vislumbrávamos alguma esperança...nos traíram!
Os estudos,os relatórios, os pareceres são extraordinariamente caros. Mas ... o país é rico... e quem paga é o Zé...

Que ganhem juízo que já é tempo e que trabalhem mais seriamente. Estamos fartos de brincadeira!
E mais não digo, por ora.

Um abraço
F.A.