Falhada a tentativa de manter um colégio em Vinhais, meus pais regressaram a Bragança, e no início do ano lectivo de 53/54 comecei a 2.a classe na escola do Asilo. Asilo-Escola de S. Francisco, assim se chamava a instituição que, naquele tempo, surpreendentemente abria (ou era obrigada a abrir?...) as portas da sua escola primária a meninas não "asiladas". Asiladas...era assim que as pobres meninas pobres eram chamadas por nós, pela professora, pela cidade inteira. Tenho na memória a imagem daqueles rostinhos cinzentos, daqueles vestidinhos pardos, daqueles casaquinhos de fioco, daquelas mãozinhas vermelhas de frio, gretadas de frieiras, que antes de a aula começar já tinham feito as camas, o café, as limpezas, já tinham puxado o brilho à cera nos corredores, na capela, nas camaratas. As freiras da congregação preparavam-nas para serem boas criadas de servir.
Na aula, a D. Pilar, fisicamente um armário, temperamentalmente uma fera (a Blá, que também lá andou, deve-se lembrar), encarregava-se de sublinhar as diferenças ao grito e à reguada. Ainda hoje me interrogo como pude presenciar tanto sofrimento sem sofrer. Crueldade de criança? Defesa contra a dor? Não chego a uma conclusão, mas o que é certo é que nunca me esqueci delas. E dos saraus que faziam, um ou dois por ano, em que recitavam, dançavam, cantavam temas doloridos de pobreza, abandono e redenção. Que destino terá sido o dessas mulheres "que nunca foram meninas"?
Para chegar à escola, atravessava a cidade - do fundo do Tombeirinho quase até S. Sebastião - e tinha frequentemente a "companhia" indesejada dos rapazinhos da Escola de S. Sebastião. Eram infernais e eu odiava-os! Metiam-se comigo, tentavam passar-me rasteiras, puxavam-me as tranças. Meninos colheiteiros, explicai-me porque é que os rapazes eram (são...) tão brutinhos. Quero mesmo entender porque faziam aquelas patifarias?! O que me valia era a pontaria a atirar pedras, e a fazer girar a pasta dos livros até dar na cabeça do "meliante" mais à mão (uma vez até parti a pedra!)...
Havia dois que não me faziam mal: o Pássaro e o Baptista (filho dos donos da Pensão Cepeda). Talvez por serem meus vizinhos. Mas eu detestava-os na mesma: ficavam de longe a olhar para mim, a falar e a sorrir com um ar escarninho. Que raiva!!! Que diabo estariam aqueles a comentar?! A fazer troça, de certeza. Menina sofre!
(continua...eventualmente)
Na aula, a D. Pilar, fisicamente um armário, temperamentalmente uma fera (a Blá, que também lá andou, deve-se lembrar), encarregava-se de sublinhar as diferenças ao grito e à reguada. Ainda hoje me interrogo como pude presenciar tanto sofrimento sem sofrer. Crueldade de criança? Defesa contra a dor? Não chego a uma conclusão, mas o que é certo é que nunca me esqueci delas. E dos saraus que faziam, um ou dois por ano, em que recitavam, dançavam, cantavam temas doloridos de pobreza, abandono e redenção. Que destino terá sido o dessas mulheres "que nunca foram meninas"?
Para chegar à escola, atravessava a cidade - do fundo do Tombeirinho quase até S. Sebastião - e tinha frequentemente a "companhia" indesejada dos rapazinhos da Escola de S. Sebastião. Eram infernais e eu odiava-os! Metiam-se comigo, tentavam passar-me rasteiras, puxavam-me as tranças. Meninos colheiteiros, explicai-me porque é que os rapazes eram (são...) tão brutinhos. Quero mesmo entender porque faziam aquelas patifarias?! O que me valia era a pontaria a atirar pedras, e a fazer girar a pasta dos livros até dar na cabeça do "meliante" mais à mão (uma vez até parti a pedra!)...
Havia dois que não me faziam mal: o Pássaro e o Baptista (filho dos donos da Pensão Cepeda). Talvez por serem meus vizinhos. Mas eu detestava-os na mesma: ficavam de longe a olhar para mim, a falar e a sorrir com um ar escarninho. Que raiva!!! Que diabo estariam aqueles a comentar?! A fazer troça, de certeza. Menina sofre!
(continua...eventualmente)
6 comentários:
Este "textinho" tem muto que se lhe diga. Mas ... não é que me fez lembrar que , não sei quando, assisti a uma festa que a Teresa refere? Pelas meninas da escola,pois claro.E então- havia muita gente na sala a assistir, era de noite , havia teatro e canções.Uma canção:Já passei a roupa a ferro, já passei o meu vestido,... e o Manel é meu marido"!!!...E julgo que actuou um par de gémeos que tocavam acordeon.
Aibda hoje tenho a sensação de casa cheia à minha volta, é engraçado!
Mas também foi no Asilo que fizeram sessões de cinema para alunos da primária, alguém se lembra?
Tantos recuerdos que eu tive ao ler o teu post...
Eu assistia todos os anos à abertura e fecho do ano lectivo na Escola do asilo , nem quero falar dessas meninas...
Era nesse largo , que dos 7 aos 10 anos jogava futebol , com o Tony Campos , Eurico Falcão , Orlando Padrão e outros e o n/inimigo era a D.Pilar , má como as cobras..
Àa vezes a bola caía para lá do muro , e eram essas meninas que à revelia das freiras e da D.Pilar no-la devolviam ..
Embora eu morasse muito perto ( largo da polícia) andei sempre na Escola da Estacada e quase jurava que o Pássaro foi sempre meu companheiro desde a 1ª classe, ainda há pouco tempo falámos nisso..
Já agora quero dizer-te que sempre "gostei" dessa menina das tranças que todos os dias passava à minha porta , e só hoje descobri que eras tu . Também me lembro da BLá lá andar .
Enfim...
Não me lembro desse Baptista . Lembrai-me melhor...
Manel, lembro-me perfeitamente das sessões de cinema. Vinha de tempos a tempos um fulano com uma máquina de projectar e filmes didácticos para mostrar à garotada. Porque é que as sessões eram no asilo é que eu já não me lembro...
Hélder, não garanto que o Pássaro tenha andado na escola de S. Sebastião, mas tenho a certeza de o encontrar muitas vezes a caminho da escola. É natural: mesmo que ele andasse na da Estacada, parte do percurso era o mesmo porque ele morava muito perto da minha casa.
Olha Teresa, eu andei na Escola da
Estação e é ainda com muita mágoa
que me lembro da professora uns dez
minutos antes do meio dia dizer: os do caldo podem sair.
Esta maneira de dizer,caía-me mal
pois era avisar aí vão os pobres,ao
caldo da Misericórdia .
Acredita que prefiro não recordar.
Gostei do teu artigo.
Bartolomeu
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