A minha Tia, ilustre ColheiteiraLBN1945 , publicou no jornal " A Voz do Nordeste " na sua edição de 28 do mês passado um artigo , que abaixo reproduzimos , com o título " Ser escritor é um Modo de Sentir " relativo a essa grande figura que foi Vergílio Ferreira e que leccionou no nosso Liceu só no ano de 1944
Modo de Sentir
Vergílio Ferreira, escritor português, oriundo de Melo, Serra da Estrela, nasceu em 1916, vindo a falecer no dia 01 de Março de 1996,apenas com 80 anos, na sua casa de Lisboa.
Seus pais emigraram para os Estados Unidos da América, ainda ele era criança. Passou a viver com duas tias e uma avó maternas. Desde menino que demonstrou grandes qualidades intelectuais. Deu entrada no seminário do Fundão, vivendo em desconforto e profunda solidão, não apreciando a vida eclesiástica. Aí se inspirou para o seu livro “Manhã submersa”.
Saiu do Seminário com 15 anos, completou o Curso Geral dos Liceus, e, em Coimbra, licenciou-se em Filologia Clássica. Foi convida dopara Assistente da Faculdade, mas optou pelo ensino liceal.
A sua vida docente foi repartida por alguns liceus do País. Em1944 foi professor das disciplinas de: Português e Latim, no antigo liceu Emídio Garcia da cidade de Bragança, apenas por um ano lectivo.
Para ele, sentir-se vivo era escrever. Era um homem de grande formação moral, retraído, intelectual, delicado e, embora algo irónico, vivia sintonizado com todos.
A pouco e pouco, ia engrossando a sua valiosa obra literária, já aparentando um ar cansado, olhar triste,…vestígios da doença que o viria a afectar.
Como professor, e eu fui sua aluna no antigo 6º ano do liceu desta cidade brigantina, Vergílio Ferreira foi de uma reflexão profunda. Estou orgulhosa, porque, um dia, me agraciou: “Na terra dos cegos, quem tem um olho de vidro , é rei”.
Apercebeu-se de que a literatura existia, sim, ao ler as obras de Eça de Queirós, Camões, Eurico Veríssimo… Como escritor, Vergílio Ferreira, transcendeu as fronteiras nacionais, revelando influências neo-realistas e existencialistas, sendo o simbolismo dos seus livros uma fortuna que nos legou.
Com a sua morte, para Portugal foi uma grande perda. O seu estilo era intuitivo na arte da prosa viva e vigorosa, sentindo-se agraciado, quando se consagrou, definitivamente, com o livro premiado pela Sociedade Portuguesa de Escritores – Aparição.
Não apreciava entrevistas, cavaqueiras de Café, aparecer na TV…, sendo, por vezes, acometido de cóleras surdas que eram um tubo de escape para o seu psiquismo. Engraçado! Gostava de Futebol! A Crítica, nem sempre lhe reconhecia o valor a que tinha “jus”.Porém, eis que, em 1984, o “Pen Clube” achou o seu nome como o mais adequado à candidatura ao Nobel.
Quase a sentir a morte, ainda ironizava, dizendo que gostaria de morrer num Sábado, pois que era o dia da semana em que se sentia menos melancólico, mesmo sem Aleluia!
Todavia, faleceu numa Sexta-Feira, sendo sepultado no Sábado, o que ele desejava.
Tanto haveria a dizer de si, saudoso Professor!!!
Seus pais emigraram para os Estados Unidos da América, ainda ele era criança. Passou a viver com duas tias e uma avó maternas. Desde menino que demonstrou grandes qualidades intelectuais. Deu entrada no seminário do Fundão, vivendo em desconforto e profunda solidão, não apreciando a vida eclesiástica. Aí se inspirou para o seu livro “Manhã submersa”.
Saiu do Seminário com 15 anos, completou o Curso Geral dos Liceus, e, em Coimbra, licenciou-se em Filologia Clássica. Foi convida dopara Assistente da Faculdade, mas optou pelo ensino liceal.
A sua vida docente foi repartida por alguns liceus do País. Em1944 foi professor das disciplinas de: Português e Latim, no antigo liceu Emídio Garcia da cidade de Bragança, apenas por um ano lectivo.
Para ele, sentir-se vivo era escrever. Era um homem de grande formação moral, retraído, intelectual, delicado e, embora algo irónico, vivia sintonizado com todos.
A pouco e pouco, ia engrossando a sua valiosa obra literária, já aparentando um ar cansado, olhar triste,…vestígios da doença que o viria a afectar.
Como professor, e eu fui sua aluna no antigo 6º ano do liceu desta cidade brigantina, Vergílio Ferreira foi de uma reflexão profunda. Estou orgulhosa, porque, um dia, me agraciou: “Na terra dos cegos, quem tem um olho de vidro , é rei”.
Apercebeu-se de que a literatura existia, sim, ao ler as obras de Eça de Queirós, Camões, Eurico Veríssimo… Como escritor, Vergílio Ferreira, transcendeu as fronteiras nacionais, revelando influências neo-realistas e existencialistas, sendo o simbolismo dos seus livros uma fortuna que nos legou.
Com a sua morte, para Portugal foi uma grande perda. O seu estilo era intuitivo na arte da prosa viva e vigorosa, sentindo-se agraciado, quando se consagrou, definitivamente, com o livro premiado pela Sociedade Portuguesa de Escritores – Aparição.
Não apreciava entrevistas, cavaqueiras de Café, aparecer na TV…, sendo, por vezes, acometido de cóleras surdas que eram um tubo de escape para o seu psiquismo. Engraçado! Gostava de Futebol! A Crítica, nem sempre lhe reconhecia o valor a que tinha “jus”.Porém, eis que, em 1984, o “Pen Clube” achou o seu nome como o mais adequado à candidatura ao Nobel.
Quase a sentir a morte, ainda ironizava, dizendo que gostaria de morrer num Sábado, pois que era o dia da semana em que se sentia menos melancólico, mesmo sem Aleluia!
Todavia, faleceu numa Sexta-Feira, sendo sepultado no Sábado, o que ele desejava.
Tanto haveria a dizer de si, saudoso Professor!!!
A saudade conservá-lo-ei sempre nas: Sandálias do Tempo.
Maria da Conceição A.Velho
Maria da Conceição A.Velho
By Bartolomeu Velho
4 comentários:
Existe em Gouveia , concelho aonde nasceu ,uma Casa Museu Vergílio Ferreira, que um dia destes hei-de visitar. Gostei muito do livro , depois passado em filme "Manhãs Submersas" e agora vou ler "Onde Tudo Foi Morrendo" , uma vez que foi escrito em Bragança e quero ver se encontro alguma referência
Num dos tomos da sua Conta- Corrente, V.F. descreve apontamentos da sua passagem por Bragança (depois direi em qual). Aí refere as cavaqueiras e actividades oposicionistas na farmácia do sr.Mariano,por exemplo.. Foi colega de curso da nossa professora de Português e tb de Latim,Dra Gracinda Moura, com quem manteve contacto pela vida fora, de que também dá conta em momentos diferentes.
É um autor que leio com agrado e estou a tentar reunir toda a sua obra,o que tem sido difícil pois alguns livros estão esgotados e a sua editora ( a Bertrand) não me tem parecido muito interessada em proceder à sua reedição(!?).
Tinha um humor sarcástico , alguns ódios de estimação , um alto valor de si mesmo , e foi sem dúvida um homem que não fez escolhas pesoais
baseadas na facilidade e no comodismo.
Nesse ano em Bragança contou entre as suas alunas uma jovem que pouco depois seria a minha Mãe e que várias vezes se referiu ao facto.
MC : podias pedir á senhora tua Mãe um testemuno sobre o grande escritor, que dizes ?
Já no nosso tempo a Farmácia Mariano era um "covil" dos oposiocionistas . Lembrais-vos dum Clube que havia nas traseiras da casa do nosso Fernando Barata ( Baratinha) que , quanto a mim , nada tinha de política e era liderado pelo filho da Farmácia Mariano e aonde estavam entre outros o filho do então G.Civil ( Fernando Gouveia )e que só não fomos presos porque ele fazia parte integrante do mesmo ?
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