A minha repugnância pelo soba da Madeira é tal que nem me apeteceu tecer comentários, quando dele aqui se falou, a propósito da sua última gracinha. Mas encontrei este texto na blogosfera, mais precisamente no blogue "Quase em Português", editado por um alemão residente em Portugal há 13 anos...e não aguentei o sentimento de vergonha. Desculpai, mas tinha de o partilhar convosco.
"O embaraço
Depois de treze anos já perdi a inibição de dizer o que penso do estado das coisas em Portugal. É que me habituei bem a vossa tolerância, que é, sem ironias, exemplar. Escudo-me também no facto de que cá trabalho, pago impostos e contribuições para a segurança social, e que os meus filhos são cidadãos portugueses. (O primeiro há de ir em breve para o Dia da Defesa Nacional.)
Mas há casos em que ainda me imponho uma autocensura, onde por respeito pelos vossos sentimentos ainda me abstenho de dizer o que penso. Não é por receio de represálias que, como disse, não haveria. É por delicadeza. É por saber que o que diria não seria de todo novidade e já é motivo de embaraço de muitos dos meus amigos e, como julgava, de todos os portugueses civilizados, cultos e intelectualmente honestos, se eles alimentam um mais que legítimo sentimento patriótico.
Como já devem ter imaginado, serve esta introdução precisamente para abandonar esta minha reserva. Decidi abordar o assunto melindroso, mesmo se fará corar quem goste de orgulhar-se do seu país, lhe crie comichão nos raízes do cabelo e lhe atrapalhe a respiração. Peço desculpa, mas tem que ser.
Prescindo do recato porque vejo pessoas que até hoje não identifiquei como aliadas ou representantes deste objecto de embaraço, a sair em defesa aberta dele, admitindo aspectos incómodos, mas menorizando-os perante os alegados benefícios e méritos.
A eles sinto me impelido de responder: caros amigos, vocês sabem melhor. Sabem que o problema não é só estético. Ver um líder político fazer aparições carnavalescas, haja carnaval ou não, dizer boçalidades e barbaridades intelectuais que ofendem a inteligência de quem concluiu o 4º ano é humilhante, é verdade, mas não é o pior.
O problema também não é só político. Que ele conseguiu habilmente, e neste caso com todo o mérito, encaminhar o dinheiro dos contribuintes do continente para a sua ilha, é demérito dos políticos do continente e não o dele.
O problema não é o Dr. Alberto João Jardim. É a cultura, o modelo civilizacional, que ele representa e impõe a sua ilha desde há trinta anos. O que mais envergonha é o que as crianças desta ilha aprendem com o seu exemplo e com a realidade por ele enformado sobre o respeito pela coerência, pela liberdade e pela dignidade humana."
posted by Lutz - 22.2.07
2 comentários:
Tinha prometido a mim mesmo, dar por encerrado esse assunto, aquando do meu escrito, mas dada a qualidade da visão deste, subscrevo tudo por baixo.
O último parágrafo apresenta o aspecto mais preocupante da acção de "bem sabem quem". De tanto matraquear as mesmas teclas da mesma maneira e com a mesma treta, já ninguém lhe liga, lá está ele,ele é aasim, o que ele quer é dinheiro,é só carnaval,etc
.Será?Isso não me preocupa.Preocupa-me saber,como diz este alemão, que há gerações de madeirenses que só conheceram este modo de vida, de política e de sociedade não-livre, que certamente irão reproduzir nas suas posturas sociais o cinismo do seu actual chefe.
Não haverá um realizador que faça o filme "O último soba da Madeira"?
Um caso assim em territórioeuropeu ...era óscar!!!
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