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terça-feira, julho 10, 2007

FESTA DOS TABULEIROS EM TOMAR 2

Reconheceis alguém ?

Porto, 9 de Julho de 2007.

A Festa dos Tabuleiros, em Tomar. Em jeito de reportagem … Alegria! Muita alegria, cor, luz e movimento! Eis os ingredientes mais gritantes na noite de sábado passado, pela ocasião da famosa Festa dos Tabuleiros que, de 4 em 4 anos, cumprindo a tradição, se realiza na bonita cidade de Tomar. A convite do colheiteiro Medeiros, aquando da realização do nosso último encontro, lá fui com a Noémia até à região dos Templários, tão rica de história, de magia e natureza. Enchi os pulmões com o ar saudável das montanhas, " lavei os olhos" com as magníficas paisagens da região e descobri no povo uma enorme ternura pela sua terra, - a grande alma tomarense - que rejubilava orgulhosamente por poder mostrar as suas tradições, plenamente consciente de que, ao longo do tempo, o seu contributo para a construção da História Pátria e da sua cidade, afinal valera a pena! Um povo - o povo verdadeiro - tisnado pelo sol e com as marcas do trabalho rude do campo, mas ao mesmo tempo, alegre e prazenteiro por poder participar mais um ano respondendo à tradição do desfile com o tabuleiro à cabeça, suportando cerca de 25 a 30 kg de peso. No dia de chegada, sábado à noite, o nosso amigo Medeiros acompanhou-nos pelas ruas e ruelas de Tomar pejadas de gente e de milhares e milhares de flores que enfeitavam janelas, portais e paredes e atapetavam ruas e passadiços que os tomarenses orgulhosamente guardavam e protegiam das passadas menos cautelosas dos transeuntes. Para termos uma noção exacta é preciso visitar! Eu, tinha cá a minha ideia mas estava muito longe da realidade! De facto, para estarmos bem certos da quantidade de flores de papel - direi aos milhares -, que por aquelas ruas, paredes, colunas, janelas, portais, etc., se espalhavam, é necessário ver. Quantas horas, dias e meses de trabalho foram precisos para que mãos habilidosas, com tanta bizarria, nos presenteassem com um tal espectáculo de luz e cor! Um encanto mágico da tradição patente em cada um dos ornamentos que davam vida à simbologia ligada à História da Ordem dos Templários e, em última análise, à História de Portugal! Finda a visita nocturna que terminou no Jardim da Mata dos Sete Montes, local onde os cerca de 650 tabuleiros, devidamente alinhados, aguardavam a hora da bênção e do desfile de Domingo, fomos descansar porque a jornada do dia seguinte, adivinhava-se dura. E, assim aconteceu. Seriam cerca das 10 horas da manhã quando tentávamos entrar na cidade, mas em vão! Dada a afluência de visitantes, cerca de meio milhão de pessoas, as entradas foram vedadas. Obrigaram-nos a deixar a viatura, num parque improvisado, a cerca de 3 ou 4 Km do centro. Começa a aventura! Sob um calor escaldante lá esperámos por um autocarro da Câmara que nos transportou até às imediações da cidade. O resto do percurso foi feito a pé. No meio da multidão que criticava brandamente o acontecido, com espírito de galhofa, lá fomos descendo calmamente até ao centro histórico. Mais uma vez percorremos as ruas e ruelas da véspera descobrindo outros encantos, outras emoções no meio do burburinho entusiástico da multidão que avidamente ía procurando local para almoçar – façanha declaradamente épica. Tudo estava cheio! Olha se não fôssemos almoçar a casa do Medeiros e esposa, dizia eu para a Noémia. Lá ficávamos sem almocinho! Por volta das 13 horas e já depois de vários telefonemas do Medeiros com alguma preocupação pelo nosso atraso, apresentámo-nos para o almoço. Um bom repasto de cabrito no forno à mistura com a afabilidade, receptividade e simpatia dos anfitriões, Graciela e Medeiros e, com algumas histórias e recordações de outros tempos. Também se marcaram faltas a alguns que anunciaram presença e que, infelizmente, não puderam cumprir. Digo, infelizmente, apenas porque o convívio seria com certeza, ainda mais rico. Depois do almoço, já não saímos. Aguardámos calmamente o cortejo dos tabuleiros que, com muito conforto apesar da ventania, pudemos apreciar das várias janelas e varandas engalanadas do belo e aprazível apartamento dos nossos anfitriões. Para quem nunca viu, tal como eu, ficaria agradavelmente surpreendido com a beleza e colorido do desfile. Lá iam as meninas e mulheres vestidas de branco, com uma fita colorida a cruzar o peito, com os tabuleiros à cabeça, (malfadado vento), acolitadas pelos jovens e cavalheiros de camisa branca e mangas arregaçadas, calças escuras, barrete ao ombro e gravata da mesma cor da fita da rapariga. O tabuleiro, segundo a tradição, deverá ter mais ou menos, a mesma altura da rapariga que o transporta. Sempre que o cansaço espreitava as damas, o moço ajudava e transportava o tabuleiro, ao ombro. No cortejo seguiam, à frente, o Pendão do Espírito Santo e as três coroas dos Imperadores e dos Reis, transportadas pelos mordomos e a seguir os pendões e as coroas das várias freguesias. No final do cortejo rodavam três carros de bois, o do pão, o da carne e o do vinho. Os bois animais de trabalho e sacrifício levavam as hastes ornamentadas com fitas de várias cores. Todo o recheio dos carros servia, para no dia seguinte, fazer a distribuição do Bodo, julgo eu, pelos mais pobres de cada freguesia. Não faltavam no Cortejo as bandas de música e outros grupos munidos de bombos e pandeiros para animar com música o imenso caudal de participantes que serpenteava alegre colorido pelas ruas de Tomar! Terminado o cortejo, quase que termina a festa! Quanto a nós, visitantes, toca a comer mais qualquer coisa, toca a apresentar agradecimentos e despedidas e toca a regressar ao Porto. Pouco passava da meia-noite, quando chegámos! Satisfeitos com o belo espectáculo que nos foi proporcionado. Obrigado pela paciência! Foi o relato possível a pedido do colheiteiro H.B.

Um abraço F.A.

P.S. As origens desta festa recuam ao tempo do rei D. Diniz e sua esposa, a Rainha Santa Isabel, a quem se atribui a instituição do Culto do Império, em honra do Espírito Santo, em Alenquer. Eram manifestações populares no tempo das colheitas, eivadas de ritos pagãos, onde as flores, o pão e as espigas de trigo marcavam presença e eram o ornamento principal dos tabuleiros que as raparigas vestidas de branco (culto da virgindade).






By Francisco Almeida

8 comentários:

Anónimo disse...

Amigo Chico:
Com a tua excelente reportagem e com as fotos enviadas by Medeiros quase me parece que estive em Tomar!!
Desta vez não me foi possível comparecer, espero daqui a quatro ainda ter folego para lá ir e que os nossos amigos Medeiros ainda tenham paciência para nos aturar.
Um abraço
Gélica

Anónimo disse...

Francisco.Gostei do teu artigo e
parece que estamos de acordo na tua
narração relativa á cidade do Navão.
Estive uma temporada nessa linda
cidade, em fins militares e guardo boas recordações .Aliás já
me tinha referido a este assunto em
comentário feito ao artigo do Medeiros.Aproveito para corrigir
que a festa dos Tabuleiros tem lugar de 4 em 4 anos .
Continua a enviar os teus artigos.
Tu tens boa memória e podes dar uma
ajuda.
Um abraço Bartolomeu

Anónimo disse...

Oh Chico! Nem Fernão Lopes, teu mestre , nos teria feito sentir mais presentes se tivesse sido ele a fazer a descrição ,que acabo de ler das festas de Tomar.
Não te escapou detalhe e dás bem o enquadramento que faltou às reportagens televisivas que o grande público viu.
Deram o tempo por bem empregue e
certamente aguçaram o apetite a mais presenças nos próximos 4 anos.
Continua a aparecer , que aqui é que se vai fazendo a festa no dia-a-dia!Um abraço.

DuarteO disse...

Daqui a 4 anos, se tiver saúde e me receberem, lá estarei mais a minha Maria.
Que de Vila Velha de Ródão lá é um pulo!

Anónimo disse...

Está uma senhora que estudou em
Bragança e que morou alí bem perto
do museu.
Certo?

H.B. disse...

Anónimo : acertaste , mas gostaríamos de saber quem és, OK?

Anónimo disse...

Helder.
Desculpa não assinei
Bartolomeu

Anónimo disse...

Atenção colheiteiros

No final do texto, no Post scriptum faltam as seguintes palavras:
transportavam à cabeça.

Ou seja:

Eram manifestações populares no tempo das colheitas, eivadas de ritos pagãos, onde as flores, o pão e as espigas de trigo marcavam presença e eram o ornamento principal dos tabuleiros que as raparigas vestidas de branco (culto da virgindade) transportavam à cabeça.


O.K?

Um abraço a todos

F. Almeida