Este mundo de banqueiros, advogados e publicitários ia acabando com eles. Na economia dita pós-industrial que agora parece ter chegado ao fim, de serviços sobre serviços, abstracções sobre abstracções, eles foram-se tornando uma espécie cada vez mais rara, quase em vias de extinção.
Muitas vezes ouço a pergunta: onde é que eles andam? Onde é que eu encontro um? Os ho- mens devidamente abençoados com o chamado jeitinho de mãos já são um bem escasso; há até quem lute por eles. Homens que fazem disso o seu ofício também são tantos como os ricos a entrar no reino dos Céus. Mas tenho boas notícias: com a crise económica, estes homens vão regressar. Mecânicos, canalizadores, carpinteiros. Há um futuro seguro para eles que não existe para a caterva de licenciados que se acumulam no desemprego.
Vejam o percurso do americano Matthew Crawford, autor de um brilhante ensaio agora transformado em livro: "Shop Class as Soulcraft". Quando fazia o doutoramento em Filosofia Política na Universidade de Chicago, Matthew andava sempre deprimido. Largou a universidade já com a tese feita e foi experimentar um think tank. Meses depois, disse-lhes também adeus. Mantinha-se a frustração. Então fez a escolha que mudou a sua vida. Abriu uma oficina de reparação de motos. Na adolescência recebera algum treino como electricista. Tinha chegado ao seu destino. "Senti que passei a ter um lugar na sociedade", diz ele no livro.
Muitas vezes ouço a pergunta: onde é que eles andam? Onde é que eu encontro um? Os ho- mens devidamente abençoados com o chamado jeitinho de mãos já são um bem escasso; há até quem lute por eles. Homens que fazem disso o seu ofício também são tantos como os ricos a entrar no reino dos Céus. Mas tenho boas notícias: com a crise económica, estes homens vão regressar. Mecânicos, canalizadores, carpinteiros. Há um futuro seguro para eles que não existe para a caterva de licenciados que se acumulam no desemprego.
Vejam o percurso do americano Matthew Crawford, autor de um brilhante ensaio agora transformado em livro: "Shop Class as Soulcraft". Quando fazia o doutoramento em Filosofia Política na Universidade de Chicago, Matthew andava sempre deprimido. Largou a universidade já com a tese feita e foi experimentar um think tank. Meses depois, disse-lhes também adeus. Mantinha-se a frustração. Então fez a escolha que mudou a sua vida. Abriu uma oficina de reparação de motos. Na adolescência recebera algum treino como electricista. Tinha chegado ao seu destino. "Senti que passei a ter um lugar na sociedade", diz ele no livro.
O argumento de Crawford é que a obsessão com a economia da informação, alicerçada em modas educativas que secundarizaram a aprendizagem dos ofícios práticos, criando nas pessoas a ilusão de um futuro sempre "aberto", subverteu o valor do trabalho.
A escala social das últimas décadas, com a sua ênfase nos títulos universitários, nos cargos e no prestígio, também não ajudou. Resultado: deixámos de construir o que quer que seja, não sabemos fazer nada e trabalhamos em redes como criaturas passivas dependentes de outras criaturas passivas, sem nunca nos realizarmos verdadeiramente.
O contraste com o mecânico não podia ser mais evidente. O mecânico sabe que o problema que tem para resolver é apenas um: o carro não pega. O sucesso do seu trabalho consiste em reparar essa anomalia. Nada de meios-termos. Sujar as mãos, usar duas ou três ferramentas e duas ou três teorias. E voilá: o motor voltar a roncar. O mecânico pode depois regressar a casa com a sensação redentora do trabalho feito. O orgulho de poder dizer "sei como se arranja um carro" confere ao mecânico uma satisfação ausente dos trabalhadores angustiados do "colarinho branco". Preparem-se pois para a próxima revolução:
quem dominar bem um ofício mandará no mundo.
In I de hoje
-------
Não tenhais dúvidas , vai acontecer isso mais cedo ou mais tarde ...
3 comentários:
Olha que há mecânicos nos quais não podemos confiar!
Alguns roubam-nos descaradamente...
E há licenciados de cinco estrelas, com provas dadas de profissionalismo e honestidade que estão no desemprego!
Abraço
Pois é! Ambos têm razão. Mas é de reter que felicidade e realização profissional não estão limitadas a uns casulos de valorização social que se aceitam como paradigmas do "parece-bem e do fica-mal a uma pessoa tão distinta".
Com a chegada de milhões à educação e a uma vida com alguma confiança e menos limitações e dependências das tradições centenárias,é natural que as posturas e as aspirações individuais se alterem também , por forma a permitir opções mais livres .
Gostei deste artigo !
Quantos são os que chegam ao fim do dia e perguntam o que realizaram de positivo para o bem comum ?
Não será que não se consomem todos os dias com invejas e pequenas quezílias com os colegas de trabalho?
Enviar um comentário