O maior entusiasmo em redor do caso Freeport não é por se tratar de um caso de alegada corrupção, nem mesmo por alegadamente comprometer o primeiro-ministro, mas por acreditarmos ter colocado Portugal nas bocas do mundo. O nosso ego nacional, ou provincianismo, o leitor que escolha o rótulo mais adequado, não resiste à ideia de que «lá fora» andam a falar de nós, a dizer mal imagine-se, que vergonha.
Entusiasma-nos igualmente a esperança de que esta investigação, sim, esta é que não vai cair em saco roto, porque a polícia inglesa não deixa, ou não estivesse aqui envolvida a família real e outro peixe graúdo.
Quem oiça a nossa comunicação social fica perfeitamente convencido de que os ingleses seguem também atentamente este escândalo, minuto a minuto, e de que se trata da principal prioridade de Gordon Brown, que interrompeu a gestão da crise financeira para se dedicar inteiramente a avaliar se o primeiro-ministro Sócrates recebeu luvas, ou não.
Agora a desilusão. Refine a pesquisa do Google ao Reino Unido e vai descobrir que só começaram a falar do Freeport ontem, e mesmo assim apenas em dois tablóides, e humilhação das humilhações, limitando-se a reproduzir o que dizem as revistas Visão e Sábado.
Do ponto de vista deles, este é um fait-divers português, que só tem relevância porque os portugueses dizem que lá andou também metido o príncipe Edward, que lhes dá um gozo imenso irritar. Mais chocante, citam a nossa imprensa, para revelar o conteúdo da carta rogatória, deixando claro que só num país como o nosso é que os jornalistas conseguem violar o segredo de Justiça.
Quanto a Sócrates, esfuma-se completamente: se pesquisar o nome no site online do Sunday Times, por exemplo, a notícia mais recente data de Julho de 2007, quando presidia à UE.
Não sei se Sócrates aguentará a minha última revelação: seguindo a tradição inglesa é referido, quando é, apenas por «Senhor Sócrates», esquecendo o engenheiro - afinal tanta provação passada para isto.
1 comentário:
Ora, vejam lá a sobriedade inglesa! Ou é mr. ou é lord. Como não é lord...
O ponto mesmo é o permanente desrespeito pelo segredo de justiça. Mais vale acabar com ele.Deixa logo de ser apetecido!
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