A interactividade da Colheita63 em movimento contínuo para todo o Mundo e especialmente para Lisboa , Tomar , Monte Estoril , Linda-a-Velha , Setúbal , Coimbra , Porto , VNGaia , Braga , VNFamalicão , Santo Tirso , Afife , Vila Real , Vinhais , Bragança , Castelo Branco , Seia , Vendas Novas , Varsenare e Aveiro

sexta-feira, julho 03, 2009

As minhas viagens por algumas cidades da India

Este é o primeiro de alguns relatos que farei sobre localidades que visitei na Índia.

VARANASI


“Cidade das mil auroras e coraç
ão espiritual da Índia”

Varanasi é, sob o ponto de vista religioso, uma das cidades mais carismáticas da Índia. Localiza-se na região de Uttar Pradesh, bem juntinho à cordilheira dos Himalaias, num território cruzado por rios, no qual podemos desvendar as origens das três maiores religiões da Índia: hinduísmo, islamismo e budismo.
Será talvez o mais antigo centro de peregrinação de toda a Índia, uma vez que a sua fundação remonta a 1200 a.C. Desde tempos imemoriais, que é conhecida como a “Cidade que é uma prece”. Por todo o lado se respira o profundo e místico hinduísmo já que a ela acorrem milhares de peregrinos de todas as partes, com o intuito de se “purificarem” no Rio Sagrado – o Rio Ganges.

Ao anoitecer caminhando até à margem do Rio Sagrado

Tive o ensejo de assistir a um imponente cerimonial nocturno, onde o tilintar de campainhas, os cânticos dos sacerdotes e as oferendas de ornamentos florais em consonância, construíram um espectáculo inesquecível, misto de cor e som, que se foi desenrolando junto aos “ghats” (degraus) de banho, pejados de peregrinos (homens e mulheres com saris de cores resplandecentes e crianças com olhos brilhantes e sorridentes) que desde o despontar da aurora se aglomeravam, para se banharem (purificarem) nas águas do rio e, simultaneamente, oferecerem aos deuses as suas humildes preces.

O ritual sagrado feito em altares flutuantes

Além dos peregrinos, um grande número de sacerdotes hindus e de “sadhus” errantes (homens santos) compunham este exuberante espectáculo de oferendas acompanhadas de loas e hinos védicos, onde não faltavam os aromas, entre os quais, o do incenso.

Cerimonial nocturno junto ao Rio Ganges

Enquanto passeávamos de barco, perto dos peregrinos banhistas, tivemos o ensejo de observar toda a espécie de “lixo” que vagueava à tona das águas! É visão para não repetir mas que pudemos testemunhar ao vivo, apesar do incómodo que nos causou. Imaginem restos humanos boiando porque o dinheiro não chegara para comprar a quantidade suficiente de lenha para colocar na pira crematória! A este propósito não resisto a dizer como o Poeta:
- “Vi claramente visto”!
No dia seguinte, antes de amanhecer, voltámos para admirarmos do barco em que nos passeávamos o nascer do Sol sobre o Ganges. De facto, um deslumbramento poder gozar tão inebriante dádiva da natureza e, ao mesmo tempo, contemplar de perto, a multidão que se dispunha ao longo dos diversos “ghats” para o ritual da oração, dando graças e aspergindo-se com as águas do rio!
O nascer do Sol visto do Rio Ganges

Divisámos vários grupos de aprendizes, candidatos ao sacerdócio, que junto e dentro do rio abriam os braços gesticulando, à medida que o Sol despontava no horizonte! Eram as boas vindas ao “Astro-Rei”, que bendiziam, louvavam e a quem davam graças, pelo começo de um novo dia! Munidos de uma fé infinita entoavam cânticos e louvores ao mesmo tempo que se banhavam nas águas imundas do Ganges convictos de que aquele banho à mistura com a ingestão da água lhes traria a pretendida purificação da alma!


Alunos de uma escola religiosa aspergindo-se com a água do Ganges.

Nunca vira cerimónia semelhante, na minha vida! Para nós visitantes e espectadores, daquela fé e crenças, este fenómeno era tão surreal quanto comovedor! Que coragem para se banharem e beberem águas tão impróprias, de tão feia cor e cheiro quase nauseabundo!
Aprendi que aquilo que um hindu tradicional mais deseja é passar os seus últimos dias num “ashram”, entoando cânticos religiosos e arrependendo-se dos seus pecados. Não há dúvida, que uma das mais antigas religiões do mundo está viva e a sua prática acontece de uma forma muito apaixonada.
E, se algum dia, passarem por Varanasi não deixem de visitar os “ghats” ao amanhecer e ao anoitecer para ouvirem o som dos sinos e dos cânticos entoados pelos inúmeros devotos que se dirigem às águas sagradas do Ganges para se banharem, redimirem os seus pecados e purificarem as suas almas.
Passeando de barco pelo rio poderão contemplar na sua margem os diversos palácios e “ghats” e as piras de cremação onde os fogos funerários crepitam todo o dia e toda a noite!

Obrigado pela paciência.

Francisco Almeida

3 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns.Adorei este relato.Só tu para "escrever" e "descrever"um passeio destes.Até se conseguem ler as entrelinhas!!
Um abraço.Vai arranjando tempo para aparecer mais vezes.
gb

mc disse...

Obrigado pela paciência??? ...Estou quase em dizer que estás a um passo de desceres os degraus para fazeres a tua purificação pelo banho nas santas águas do Ganges , numa cerimónia como a que descreves com tanto pormenor , vivacidade e respeito neste teu texto, tanto pelo que nos fazes ver como pelo que quase se cheira ...e que ,como bem diz a Gélica, tão bem deixas nas entrelinhas.
A última foto ,pela tonalidade da luz e o pastel das cores sugere-me uma pintura.
Parabéns.Tens público.
Abraço.

F.A. disse...

Tens razão Manuel. A última foto é belíssima no original. Aqui parece ter sido tratada com efeitos... Coisas das tecnologias informáticas!!!