“Encontraram-se um dia o Princípio Moral e o Interesse Material, no leito de uma ponte tão estreita que só podia dar passagem a uma pessoa de cada vez.
- De rastos, vil criatura! – gritou, tonitruante, o Princípio Moral. – De rastos, para que eu te possa passar por cima.
O Interesse Material limitou-se a fitá-lo bem nos olhos, sem proferir palavra.
- Bem – admitiu o Princípio Moral, num tom hesitante – tiremos à sorte, para sabermos qual de nós dois deve recuar até que o outro haja passado a ponte.
O Interesse Material continuou sem abrir a boca e a fitar o seu interlocutor.
- Para se evitar um conflito – parlamentou o Princípio Moral, não sem um certo mal-estar – vou estender-me no chão e consentir que o senhor passe por cima de mim.
Foi, então, que o Interesse Material tomou a palavra, para afirmar:
- Pois eu penso que você não é bom piso para mim. Sou muito exigente quanto ao que calco aos pés. Acho melhor que você se atire ao rio.
E assim se fez…”
Ambrose Bierce
2 comentários:
A estória está viciada. O princípio moral não grita tonitruante. A menos que seja uma modernice neo-liberal.
Na verdade, os princípios morais também sofrem de ataques de modernismo. Será este o caso? A avaliar pelas campanhas de "solidariedade" a que se pode assistir a propósito de tudo e de nada!!!???, o Princípio Moral já perdeu o fio à meada. Bem pode tonitroar, gritando. Quem o ouvirá?
Cada vez há mais aparelhos auditivos e dos bons mas a verdadeira surdez está mais "inside". A vergonha passou de moda...Que aborrecimento!!!
Fbbc
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