A ascensão da demagogia, por Pacheco Pereira.
Faz reflectir!
Vale a pena ler.
Não tem nada a ver com as eleições!
(Alguma vez havia de concordar com ele).
Excertos:
...Os tempos estão férteis para os demagogos sob várias versões e debaixo de várias capas ideológicas, à esquerda e à direita. Este é um dos aspectos mais perigosos dos anos nefastos que vamos atravessar, porque será pela sua voz e pela sua acção que se incendiará o discurso político, que se destruirá a já débil capacidade da racionalidade do debate público. Os temas da demagogia são clássicos (dinheiro, corrupção, desigualdade, riqueza, etc.) e, em tempos sem futuro, os demagogos incentivam a raiva com proveito próprio. Aqui vão alguns exemplos.
...
O Correio da Manhã tem patrocinado uma petição sobre o enriquecimento ilícito, que tem sido assinada por membros do sistema judicial, polícias, magistrados do ministério público, juízes, ou articulistas que têm aparecido publicamente em campanhas contra a corrupção.
Como acontece habitualmente com a demagogia, esta iniciativa aponta um problema real: a corrupção que se manifesta pelo súbito e inexplicável enriquecimento de alguns políticos e que provoca um enorme repúdio social. É igualmente verdade que o sistema de justiça tem sido incapaz de a combater e levar os políticos corruptos à prisão, como é desejo de todas as pessoas decentes. Mas já não é líquido que esta ineficácia se deva necessariamente à inexistência de legislação aplicável, mas sim a outros factores, incompetência da investigação, incúria dos magistrados, ou pura e simplesmente promiscuidade entre os meios corruptos da política e os meios judiciais. A permanente condução política dos processos que envolvem políticos, gera a maior das suspeitas sobre a independência dos dois sectores e sobre se há ou não um jogo de cumplicidades mútuas.
...
Em Portugal, como em Itália, um grupo de agentes da justiça, magistrados e juízes, usam o justicialismo para ganharem poder político à margem dos mecanismos democráticos. Ao mesmo tempo que o sistema judicial se revela particularmente ineficaz para perseguir corruptos, aspira a ganhar poder político em nome dessa luta contra a corrupção. Por tudo isto não espanta que o VIII Congresso dos Juízes Portugueses fosse apresentado por um texto anunciando, sob a forma de perguntas retóricas, um século XXI como o “século do poder judicial”: “Se o século XIX foi o século do poder legislativo e o século XX o do poder executivo, poderá o século XXI vir a ser o século do poder judicial?”
O texto é curiosamente impregnado por uma retórica esquerdista em que, após “o eclipse de todas as narrativas históricas grandiosas”, ou seja do comunismo, surgiram “democracias descontentes” (?). Esse descontentamento abre caminho para “uma transferência de legitimidade dos poderes legislativo e executivo para o judicial” como uma “exigência de qualidade da própria democracia e da coesão social”. Todo o texto é demasiado revelador, talvez até mais revelador do que os seus signatários pretendiam, daquilo a que se chama um “novo protagonismo político” dos juízes que “corre o risco de se vir a assumir como verdadeiro poder”.
Está tudo dito e o que está dito nada tem a ver com a democracia nem contente, nem descontente.
2 comentários:
Não tem a ver com o próximo acto eleitoral mas tem tudo a ver com a forma por que o regime democrático, ao não se aperfeiçoar, se auto-fragiliza ,ficando exposto a ataques de grupos com poder e que escapem a qualquer controle dos orgãos políticos que são eleitos por períodos determinados por lei.
Mas, tal como aparecem estes excertos é temerário dizer mais que isto.
MC:
Clica no titulo (A ascensão da demagogia) e podes ler todo o texto do JPP.
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