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quinta-feira, janeiro 18, 2007

Preso por amor

Nos últimos dias os jornais têm sido inundados pela noticia do militar que foi preso por ter "sequestrado" a sua "filha adoptiva" quando o Tribunal determinou que fosse entregue ao pai bilógico.
"Preso por amor", foi o titulo dos jornais que descreveram este drama.
O "pai adoptivo" é descrito como o herói pleno de amor paternal (do qual não duvido), e o pai biológico é o vilão que só agora, passados 5 anos, reclama a paternidade da filha.
Editoriais de jornais, colunistas, peritos de isto e daquilo, fotografias dos "avós adoptivos" de lágrimas nos olhos, grandes entrevistas a "tias adoptivas", populares e intelectuais da psicologia e da justiça em abaixo assinados, temos lido de tudo.
Só não temos lido as razões do pai biológico.
A "mãe adoptiva", com a criança, desaparecida em parte incerta.
E o "pai adoptivo" preso em Tomar por não cumprir as determinações do Tribunal (entregar a criança ao pai biológico).
A mãe biológica (brasileira?) ausente, emigrante algures na Suiça.

Vejamos sucintamente a história que consegui respigar dos jornais:

  1. há 5 anos uma jovem teve uma ligação passageira com um jovem
  2. a jovem engravidou
  3. o putativo pai biológico diz que só perfilha a filha se ela for filha dele
  4. a mãe biológica "dá-a" a uma família que ela julga poder tratar bem dela
  5. Esta família, "pais adoptivos", ao fim de 1-2 anos desencadeiam o processo de adopção
  6. a criança foi registada como filha de pai incógnito, facto que levou o Tribunal investigar
  7. O Tribunal concluiu após exames que "A" era o pai biológico
  8. o pai biológico quando tem a certeza da paternidade perfilha a filha e desencadeia o processo de poder paternal
  9. isto há cerca de 3 anos
  10. o processo continua a desenrolar-se nos Tribunais
  11. neste tempo a criança continua com os "pais adoptivos" apesar de já estar perfilhada
  12. ao fim de 3 anos o Tribunal atribuiu a criança ao pai biológico
  13. a criança continua em parte incerta com a "mãe adoptiva"
  14. o "pai adoptivo" por desobedecer ao tribunal, não cumprindo a lei, foi preso e seguiu para Tomar
  15. o pai biológico continua a pugnar por ela
  16. os "pais adoptivos" recorrerão da sentença, diz o seu advogado
  17. a mãe biológica continua ausente

Posto isto, e verificando que há sofrimento de ambas as partes, pergunto a mim mesmo:

  • porque é que os jornais condenam, em uníssono e sem o ouvir, o pai biológico?
  • porque é que os "pais adoptivos" não respeitaram a decisão do Tribunal?
  • porque é que a mãe biológica continua ausente?
  • porque é que os tribunais demoraram 5 anos a julgar este processo?

EM RESUMO:

Os "pais adoptivos", sofrendo, violaram a lei por amor. O pai biológico há 3 anos que pugna pela filha que perfilhou. A mãe biológica contunua ausente. A JUSTÇA foi foi cega, fria e lenta.

QUAL TERIA SIDO A MELHOR DECISÃO?

- Não sei!

Mas sei que não condeno o pai biológico por desejar reaver a filha, não condeno a mãe biológica por "dar" a filha, num momento de desespero, a um casal equilibrado, não condeno, nem endeuso os "pais adoptivos" que violaram a lei pelo amor que já têm à criança.,

NOTA - este texto foi escrito ontem à noite, dia 17/01/07, depois da leitura de vários jornais diários.

1 comentário:

Anónimo disse...

sei por experiência própria que criar é amar..hoje ao fim de 8 anos amo muito mais a minha filha Maria do que no dia em que nasceu e nos dias seguintes!!!

mesmo correndo o risco de estar a ser demasiado radical, não acredito que uma pessoa possa amar e desejar uma criança,que não conhece e que é fruto de um amor fugaz.

como jurista sou pelo cumprimento e aplicação da lei, como mãe, assim como estes pais adoptivos, violaria a lei por amor!!

Espero que o movimento agora criado por juristas e outros especialistas, atinja os objectivos para que foi criado, que seja concedido o habeas corpus ao pai adoptivo e que no fim os interesses e o bem estar da menor sejam salvaguardados.

Graça Barreira