Testemunho dum dos nossos ....25 de Abril

Amigo Osório:Esses pressupostos que enunciaste são sem dúvida, a meu ver, inquestionáveis.Contudo como bem sabes em 1973/74 a politização dos jovens Capitães era nula ou muito pouca.Todos estavamos muito bem intencionados, mas não foi fácil aglutinar vontades e chegar a patamares politicos (um tanto avançados para a época)que conduzissem a uma rotura completa com o regime vigente.

No meu caso pessoal fui muito influenciado pelos meus camaradas mais antigos que vinham da guerra e não se coibiam de nos informar da real situação e dos atropelos que nas ex-colónias os mais frágeis sofriam.Também os famosos estudantes intervenientes nos acontecimentos académicos de 1969 e que foram todos mandados cumprir o serviço militar, numa 1ªfase, nas Escolas Práticas ,onde eu me encontrava,tiveram alguma influência na minha politizaçao.É claro que a conquista da liberdade, a introdução da democracia plena,o fim da guerra colonial (este principalmente por ser mais aglutinador), justiça social e desenvolvimento, só por si, já seriam mais do que suficientes para grandes objectivos a conseguir com a revolução.

Contudo foi necessário o famoso Decreto 353/73, que cria o Q.E.O.(Quadro Especial de Oficiais), para unir as nossas vontades, embora, justiça lhes seja feita, havia já alguns camaradas(poucos) com politização considerável para entrentar a liderança para a enorme responsabilidade a que nos propunhamos.E na verdade quando em 14 de Agosto de 1973,Dia da Infantaria,o Ministro da Defesa Nacional e do Exército,General Sá Viana Rebelo,em Mafra admitiu terem-se verificado,na aplicação da lei,várias situações não previstas prontificando-se a corrigi-las a a nosso contento,essa correcção em vez de desmotivar o pessoal,pelo contrário deu-nos mais força e ânimo para levar avante esses e outros desideratos que bem enunciáste e que para nós constituíam princípios sagrados,razão do por vezes meu grande desgosto e não menor desilusão pelo caminho que estes incompetentes políticos conduzem o nosso país.

Quando embarquei nesta revolução nunca me passou pela cabeça que passados 33 anos, a Educação, a Saúde, A Justiça Social e a outra, o desenvolvimento da nossa economia (apenas para falar dos principais vectores do Estado)estejam no estado lastimoso em que se encontram com reflexos bem patentes no resultado daquele célebre concurso do maior português de sempre!Quem como eu e a esmagadora maioria dos meus camaradas,entrámos na revolução de alma e coração com todo o idealismo que brotou da nossa juventude e hoje constatamos o rumo que tudo isto levou, não podemos deixar de sentir uma certa mágoa, uma grande amargura e frustração por esses desideratos não terem ainda sido atingidos!Mas também não é menos verdade que continuamos a sentir um enorme orgulho em termos arriscado as nossas carreiras e as nossas vidas naquela madrugada libertadora e de esperança para os nossos filhos e netos!Há!Para mim foi,é e será sempre A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS, embora haja ainda muito boa gente que a conota,a meu ver erradamente,com certa ideologia política...e não me admiraria muito se a breve ou médio prazo tentarem acabar com o cerimonial oficial comemorativo da mesma,mas estou certo, que na memória do nosso povo, que é o que verdadeiramente interessa, a mesma não morrerá!

Post by Vitor Barata