Segundo dizia Guerra Junqueiro, já fomos assim...e continuamos assim….
" Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (...)
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta ate à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida intima, descambam na vida publica em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na politica portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...)
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do pais, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre - como da roda duma lotaria. A justiça ao arbítrio da Politica, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;
Dois partidos (...), sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...)
vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgamando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (...)"
Guerra Junqueiro, in Pátria, escrito em 1896
By Francisco Almeida
By Francisco Almeida
2 comentários:
Mas como é que vamos singrando nas ondas alterosas dos séculos, se até para "corneteiros e clarins" da humanidade nos sobram "os defeitos"?
E porque será que continuamos a possuir as mesmas fronteiras de há 800 anos, não obstante as ideias dos nossos eternos "inteli-
gentíssimos e independentíssimos" fazedores da opinião publicada, momentâneamente tão apreciada, apresentarem sempre um país à beira do suicídio?
Será que foi, porque quando houve que decidir os verdadeiros desígnios nacionais, essa opinião não foi tida em conta para nada,a não ser para a colocar no baú do esquecimento, como tudo o que é desprezível?
Vã glória!
Com um abraço.
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