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quinta-feira, maio 21, 2009

Isto não foi em Portugal ...

Há mais de 300 anos - leu bem: mais de 300 anos - que não acontecia uma coisa destas, o presidente do Parlamento empurrado para a demissão. Foi o desfecho previsível do caso das despesas particulares pagas pelo erário público de pelo menos 18 deputados de diversos partidos, agora chamados à pedra. O homem a quem estava confiado o controlo dos pagamentos fechou os olhos a gastos em jardinagem, decoração, limpeza de piscinas e, até, na aquisição de filmes pornográficos. E também aproveitou para apresentar umas quantas facturas de táxi da sua mulher.
Não, este episódio não se passou em Portugal, mas na velha e respeitável democracia inglesa. Naturalmente, mancha a reputação da Câmara dos Comuns. E a reputação de um país onde, recentemente, se descobriu que membros do Partido Trabalhista, no poder, usavam mails e sites na Internet para imputar falsos comportamentos impróprios a adversários, denegrindo-lhes a imagem.

Um advogado foi condenado a quatro anos e meio de prisão por ter prestado em tribunal falsos testemunhos, em benefício do primeiro-ministro. Que daí lava as mãos graças a um truque manhoso. Quando o processo estava prestes a atingir o ponto de não retorno, tratou de fazer aprovar no Parlamento um regime de imunidade que suspendeu a acusação de suborno, no valor de 430 mil euros. Quem foi corrompido, paga as favas; quem corrompeu fica a rir-se - e a governar.
Não, este episódio também não se passou em Portugal. Passou-se em Itália e tem como protagonistas um advogado inglês e o chefe do Governo transalpino, Sílvio Berlusconi, o empresário que, como alguém já escreveu, lançou uma OPA sobre o Estado, do qual dispõe em função dos seus interesses. Com o aplauso (ou pelo menos o silêncio cúmplice) da maioria dos eleitores.

Convoco estas duas histórias, ambas alheias à realidade nacional, porque me revolta o recorrente desabafo que por aí se ouve, quando mais um escândalo no universo político chega ao conhecimento público: "Isto só em Portugal!". Nada mais desresponsabilizador, porque sinónimo de pés e mãos atadas. Se "só em Portugal" acontece, então temos o destino traçado. Uma perspectiva que só pode conduzir à inacção, ao encolher de ombros.

Portugal somos nós - os políticos também. Exigir exemplaridade a quem nos representa será excessivo, porque são humanos, têm virtudes e defeitos. Temos é de reivindicar um sistema que não seja complacente com a infracção, que funcione, como em Inglaterra, sem olhar a quem atinge. É responsabilidade colectiva combater as águas mornas, onde melhor navega a impunidade. Não basta vociferar para o microfone que nos estendem.

IN JN de hoje
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Pois é , mas com o mal dos outros podemos nós ...

1 comentário:

mc disse...

Diria que é mais um exemplo de como estamos já bem integrados no "sistema europeu"! ... no que ele tem de menos recomendável,pelo menos.Melhor ainda talvez, são sinais inequívocos da força da crise que toca a todos...