Àqueles para quem se tornou insuportável o espectáculo, e insustentável a situação, de continuar a ver mulheres humilhadas, julgadas e condenadas, pela prática de interrupção voluntária da gravidez até às 10 semanas, e coerentemente tencionam votar SIM no referendo de 11 de Fevereiro, atrevo-me a lembrar: NÃO FIQUEM EM CASA!!!!! Lembrem-se do que aconteceu em 1998...
Já agora, para ilustrar este alerta, uma história como tantas que todos conhecemos, roubada no blogue "Coriscos".
"Do aborto. E da hipocrisia.
Um problema de saúde obriga-me há alguns anos a visitar o ginecologista com apurada assiduidade. Aliás, os ginecologistas, no plural - quando um está de férias em qualquer lugar exótico tenho sempre o outro. Não é um capricho; é o que tem que ser. Dois homens, amigos de longa data, a trabalhar em cidades diferentes. Médicos irrepreensíveis cuja longevidade do acompanhamento acarreta já algum afecto e muitas, muitas histórias. Uma-consulta-uma-história. Que nunca escrevi. Porque não.
Mas no encalce do segundo referendo sobre a despenalização do aborto é-me inevitável a partilha de uma história que ouvi numa dessas visitas, e que me leva a não ter grandes dúvidas sobre a vitória do "não" a 11 de Fevereiro próximo e sobre a perpetuação da hipocrisia reinante neste país. Faço este preâmbulo para que fique bem claro que a história é real, que estará longe de ser inédita, e que pulula, impune, aqui e ali, mascarada do melhor verniz.
Um dos ginecologistas mantinha uma qualquer tertúlia semanal e de café com companheiros da classe, mas de especialidades diferentes. Conta-me que eram conversas animadas pelas questões da ordem do dia e das convicções de cada um. Numa tarde de 1998, em plena contagem decrescente para o primeiro referendo sobre o aborto em Portugal, discutia-se inevitavelmente a questão. Um dos parceiros defendia as vantagens de o assunto continuar como está, ou seja, com mulheres a irem parar ao banco do Tribunal quando a interrupação da gravidez é descoberta. Ou a rumarem clandestinamente a Espanha. Ou à mesa de um boteco mais ou menos grotesco de uma rua escondida onde uma anacrónica parteira ou enfermeira lhes trata literalmente da saúde.
A argumentação, conta o médico, estava mais centrada no princípio moral do que propriamente na ciência ou em saber quando é que o feto é ou não um efectivo ser humano. Dizia o colega que esse tipo de utentes - as mulheres - seriam na sua grande maioria pessoas mal formadas de classes desafavorecidas ou adolescentes incautas. E que não seria possível, na era do preservativo e do não-tabu sexual, ser conivente com esse tipo de comportamento imprudente. Seria necessário educá-las, mas nunca à custa de uma morte. O fervor da discussão terá levado o homem a abandonar a tertúlia. Não só essa como as que se seguiram. Até um dia.
Até ao dia em que entrou no consultório do ginecologista, julgando este que seria para se desculpar e eventualmente fazerem as pazes. Não era. Era para lhe pedir que fizesse um aborto à mulher. Uma adolescente? Não, obviamente! Uma mulher mal formada de classe baixa? Também não. Uma mulher de 40 anos, no auge da carreira, com dois filhos, e a quem não convinha um terceiro. Não tocaram na conversa que motivou a discórdia entre ambos. Mas o ginecologista confessa que aguardou durante vários dias um cartão ou um telefonema que emitisse um sinal de redenção.
O sinal chegou no dia em que fumava um cigarro à janela. Lá em baixo, no meio de uma manifestação contra a despenalização do aborto, alguém empunhava um cartaz com um braço e erguia o outro na sua direcção, acenando-lhe. Era o homem, sem qualquer laivo de vergonha ou arrependimento, que semanas antes havia pago um aborto à mulher."
publicado por Helena
6 comentários:
Eu sei porque não fico em casa ...
Vou votar sim
Votar NÃO é defender o aborto clandestino na Brandoa para os pobres.
Os ricos vão a Badajoz, a Londres ou a algumas clínicas de Lisboa.
Há sempre o diagnóstico possível de "aborto em evolução" que implica uma raspagem! So...
Sem comentários. Repetirei o SIM.
Basta, meus amigos.
Um abraço
Fica o alerta :"Não fiquem em casa"!
IGV - uma questão de consciência?
Ouça-a e descarregue o seu voto.
É com prazer que leio os vossos
pareceres acerca deste tão debatido
tema ...
Tema que foi aqui , há anos ... hoje aí ... espero que a realidade
guie as " mentes " para um sim .
Um abraço da Blá
BLÁ.
Se calhar daqui a uns anos ainda
continuamos a debater o mesmo tema.
O conteudo não haja dúvidas que é
melindroso,tanto assim que é pela 2º.vez referendado.
Um abraço do
Bartolomeu
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