João Tunes escreve em "Água Lisa 6", carregado de razão...
"O racismo é uma espécie de irmão gémeo da xenofobia. Não admira, pois, que o racismo paternalista, essa forma derivada do eurocentrismo autocanonizado como santo padroeiro dos actos condenáveis - mesmo os criminosos - dos negros ou amarelos, queira ser irmão protector, pela omissão do silêncio, da xenofobia interafricana, que já vimos em tantas partes de África e hoje explode em barbárie fraticida na África do Sul. Levante-se um punhal, um punho, uma mão, um dedo ou uma unha, carregados de esterco da vergonha europeia, dessa estupidez criminosa que lhe está na história do seu racismo persistente, no Bairro Alto, em Itália, na Holanda ou na Alemanha, contra um infeliz vítima da barbárie do racismo e da xenofobia, logo teremos acordada uma legião de indignados. Mas, neste bando louvável e militante, quantos não são os que deixam no estojo do violão os cantos de revolta, se o crime, o mesmo crime, para as mesma vítimas, pois as vítimas são sempre as mesmas (as do fim da escala dos direitos perante o poder), vier de gente catalogada entre os intocáveis das referências mitológicas da esquerda europeia? Demonstrando que, afinal, muito do anti-racismo europeu, esse filho tardio do banquete colonial, eurocêntrico por contumácia, ainda navega mais entre mitos, utopias e balizas ideológicas, que entre os escolhos em que se definam, de uma vez por todas, os princípios de cidadania universal. Que só surpreende se esquecermos que a ideologia eurocêntrica do marxismo, desenvolvida no estudo dos pólos das contradições do capitalismo desenvolvido, ensinou gerações de prosélitos radicais a gemerem perante uma injustiça numa fábrica cometida por um patrão malvado, mas a armazenarem silêncios - que povoam quase um século de crimes calados - perante barbáries em massa cometidas por bandos marxistas tornados delinquentes no uso do poder."
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