Laranjas com presunto...

Na TV, nos jornais e nos blogues só se fala dos Laranjas dado que têm eleições à porta para escolherem o seu chefe.

De tanto se falar em laranjas resolvi ir ver como vão as minhas 6 laranjeiras e tentar perceber se já estão a precisar do tratamento contra a mosca.

No meio desta laranjal lembrei-me de uma história curiosa que se passou comigo há mais de 20 anos.

Na consulta hospitalar, trazido pelo filho, apareceu um velhote de uma aldeia próxima que estava com uma profunda depressão, julgando o filho que desta não escapava.

Depois dos trâmites normais da consulta propus ao filho que o pai fosse internado para o tratamento ser mais eficaz.

O filho desesperado, pensando que era para o pai morrer assistido, concordou.

Ao fim de cerca de 2 meses de tratamento o doente teve alta completamente restabelecido.

O filho, sentindo que tinha sido feito um “milagre”, apareceu-me em casa com um presunto dizendo que era para demonstrar a sua gratidão.

Ripostei dizendo que não aceitava, que ele era pobre, que comesse ele e o pai o dito presunto, e terminei:

- Não quero desconsiderá-lo, mas só aceito se for alguma coisa que produza e que lhe não faça falta.

Ele contrapôs:

- Tenho muitas laranjas, aceita um cestinho delas?

E eu:

- Claro que sim, isso é da sua lavra, não gastou dinheiro a comprá-las, por isso aceito.

Uns dias depois voltou a aparecer em minha casa com um cesto de laranjas e referiu:

- Olhe senhor doutor pode ficar também com o cesto porque é muito jeitoso e tenho muito gosto em oferecer-lho.

Anuí, para ele não pensar que não aceitava reconhecimento de pobre.

Qual não foi o meu espanto quando, ao retirar as laranjas do cesto, verifiquei que no fundo estava o dito cujo presunto!

Confesso que fiquei surpreendido com este acto de esperteza popular e ri a bom rir pela forma como fui "levado"!

E foi assim que comi laranjas com presunto!

E foi assim que a prática me ensinou que há uma cultura livresca e uma cultura popular e que devemos conhecê-las e respeitá-las a ambas!