Filhos são bichos raros. Dizemos "são tal qual a minha cara", ou "são iguais a mim em tudo"- e depois um dia descobrimos que, em (aparentemente) insignificantes pormenores, são verdadeiros estranhos.
A minha filha, que é das pessoas com quem eu me dou melhor, que é uma cópia de mim em tantas coisas -noutras é diametralmente oposta. Uma das coisas que irremediavelmente nos separam é "a tralha". Ou aquilo a que ela chama "tralha". "Palavra que não sei como consegues viver no meio desta tralha toda", diz ela muitas vezes quando vem cá a casa.
Acontece que a minha filha ainda não viveu tempo suficiente para ter a casa dela cheia de tralha e, pior do que isso, para não poder viver sem ela. Aquilo a que ela desdenhosamente chama "tralha" são objectos que marcaram a minha vida. Que me foram dados por pessoas muito amadas e que já morreram. Ou que estão vivas mas desapareceram do meu lado. Ou que estão longe e assim parecem mais perto. Ou que aparecem pouco, mas são muito importantes para mim. Coisas que não servem para nada - a não ser para me ajudarem a suportar a vida.
Não seria capaz de viver numa casa decorada por profissionais - que decerto não iriam encher as minhas mesas de pedras, folhas secas, búzios, postais, desenhos dos netos, frascos cheios de canetas,etc. Tudo o que eu tenho em casa - tirando os objectos necessários à nossa vida quotidiana - tem uma história, recorda alguém, lembra um lugar ou marca um tempo.
E que seria eu sem os retratos que me espreitam de todos os cantos? Como poderia andar pela casa se eles não olhassem para mim? Se eu não ouvisse as suas vozes, tão nítidas, rebentando das molduras?
E agora digam-me lá como é que eu posso chamar "tralha" a isto.
In JN de Hoje
Sim , dizei lá queridas Colheiteiras ....
8 comentários:
Pois é, a Alice Vieira tem recordações como o caraças!
Tralha sim, ma non troppo!
Memórias afectivas só as importantes, as que marcam a nossa vida!
Acho que o HB foi "chauvinista macho" ao pedir só a opinião das "meninas".
Nesta mudança de casa, com algum esforço, "livrei-me" de muita "tralha", mesmo daquela que me trazia algumas recordações.
Mandei imensos objectos decorativos para uma instituição que as distribui a pessoas que querem montar casa e não têm nada...
Claro que ainda fiquei com muita coisa que talvez vá embora na próxima abordagem.
Há que aliviar a nossa carga e sobretudo a daqueles que são nossos herdeiros.
Quanto menos "tralha" deixarmos menos problemas de consciência lhes deixamos.
A "tralha" da minha mãe ainda está à espera que a minha irmã e eu ganhemos coragem para lhe dar a volta!
Abraço
Tralha ? não !!!!!!!....
Retalhos de vida !
Porque os amigos não se esquecem desejo para todos um bom ano 2009.
Celeste
Cara Celeste
"Tralha" aparece sempre entre aspas,são, de facto, retalhos da vida que podem alegrar a vida de outros! Basta-nos a recordação e essa nunca sai de dentro de nós.
Mas olha que não foi fácil chegar aqui...
Abraço
Gostei deste post!Quantas vezes tenho pensado nisto!!
"Tralha",muita tralha e nada fácil livrarmos-nos dela...
Pensando como a Rosa dos Ventos,que devemos deixar os nossos herdeiros mais aliviados, vou fazendo algumas limpezas..,mas sempre demasiado contidas.
Devíamos ao longo da vida ir mudando de casa e sempre para uma cada vez menor.
PS- Celeste?? Será a Celeste que eu penso??
Celeste : Será a Celeste ( irmã da C) que eu penso . Se sim uma grande abraço para ti e marido r que continues agora a aparecer. Sei que tens muitas fotos do n/tempo , envia-me algumas ( colheita63@gmail.com ). Se não fores , continua a aparecer , serás sempre bem vinda
GB:Em qual pensas tu ?
O Atila acertou,É a irmã mais velha da C.!!!!!!
Um abraço para todos e os melhores votos para o ano 2009
C.
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