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sexta-feira, dezembro 22, 2006

CRÓNICA DE SEXTA-FEIRA (5ª)

100 anos de Marcelo Caetano


O ano de 2006 foi marcado pela comemoração do centenário do nascimento de uma figura axiomática do Estado Novo e da segunda metade do século XX português: Marcelo Caetano.
A primeira coisa que importa dizer sobre o sublime Professor Catedrático, oriundo da Terra e de famílias humildes, é que já poucos sabem quem foi. Na memória dos portugueses, Salazar fica chefe solitário de 40 anos de triste existência de Portugal no séc. XX, deixando um legado que o seu breve sucessor não conseguiu dirimir. Talvez seja por isso que a analogia entre os dois se imponha.O jovem Marcelo Caetano dimanava de uma direita mais radical do que Salazar e passou parte dos anos 30 a dizer-lhe que as instituições deveriam ser mais robustas, com mais ideologia, mais corporativismo, mais jovens inspirados no fascismo, perante a prudência pragmática deste último. Cooptado pelo ditador, passou a ser um fiel discípulo, mais aberto à experiência e à modernidade autoritária do que Salazar, e dizendo-lhe de vez em quando o que pensava.Mas o Marcelo que interessa à História contemporânea é o da década de 60, quando, afastado do poder, se torna reserva perante as crises finais do salazarismo. Quando Salazar enfrenta o golpe do general Botelho Moniz e o seu nome aparece. Quando nessa década de grande crescimento económico e mudança social se pensa na alternativa europeia o seu nome desponta.Acresce que a coincidência de estar de regresso à Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa nesta década conturbada lhe permite não só reforçar o grupo dos discípulos académicos como ir informalmente erigindo o pequeno núcleo dos "marcelistas", como que preparando a roda da sucessão. Marcelo emerge então junto de alguns círculos da classe média, mesmo da oposição, como uma alternativa liberalizadora e modernizadora ao ditador envelhecido.Caetano não traiu as esperanças e houve de facto alguma "liberalização". O erro foi pensar que nos regimes ditatoriais "liberalização" queria dizer democratização. Sem Guerra Colonial, talvez a esperança de uma democratização elitista se concretizasse. Mas os valores e as ideias moldam mais os homens do que o pragmatismo da democracia. Caetano, no fundo, também não imaginava Portugal sem império e sabia que em democracia ele desapareceria em meses. Pior legado Salazar não lhe poderia ter deixado.
Na próxima sexta-feira, a figura pela qual me debruçarei será Mozart na medida em que 2006 correspondeu ao 250º aniversário.

By Afonso

2 comentários:

Anónimo disse...

Tema bem escolhido,mas que obviamente daria como se diz em
linguagem popular " pano
para mangas".
Ficará para uma próxima ocasião
não é assim Afonso?
O próximo tema, muito bem escolhido.
Boas Festas
OLD

Anónimo disse...

Concordo com a sua perspectiva acerca da temática "Marcelo Caetano". Possivelmente nas próximas semanas poderei expor, por exemplo, o pensamento ou as origens desta figura portuguesa.