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sexta-feira, maio 09, 2008

Com Muito Prazer

Crer ou não crer, eis a questão

Há momentos fatais na vida de uma mulher que fazem com que ela deixe de acreditar no amor.
Um desses momentos é quando ela tenta em vão encontrar os pares das meias do seu amante e se debate com o eterno puzzle das meias desirmanadas. Trata-se de um mistério eterno e insondável: algo acontece dentro da máquina de lavar roupa que faz com que os pares certos não mais voltem a repousar juntos e em paz na gaveta da roupa interior. É como se, depois de terem entrado dentro do tambor rotativo, resultado de um feitiço da fada das meias, os pares se perdessem para sempre, para não mais se voltarem a encontrar.

As meias dos homens são uma dor de cabeça para as mulheres. Primeiro porque são muitas, depois porque são em geral muito escuras e finalmente porque são todas mais ou menos iguais. Porém, isso acontece antes de entrarem na máquina, ou seja, antes do feitiço mau da fada invejosa cair sobre a harmonia do lar. No fim da lavagem, não são, não podem ser as mesmas meias que entraram no programa económico de trinta minutos antes; são outras, mais escuras ou mais claras, mais encolhidas, tresmalhadas, perdidas para sempre do seu saudoso par.

O que espera estas meias avulsas e inúteis? Uma vida de solidão, de abandono e de espera, o purgatório das meias, que é o tabuleiro da roupa por passar a ferro. O tabuleiro da roupa é uma boa metáfora para o tabuleiro da vida; o par certo tarda em aparecer, desiste, perde-se pelo caminho, fica esquecido no fundo da máquina, ou então é involuntariamente dobrado e metido dentro da gaveta com outra meia que pertence a outro par.
Viver num tabuleiro é aborrecido. É como viver numa sala de embarque de um aeroporto: o voo vai-se atrasando, os adultos vão ficando cada vez mais impacientes e as crianças vão chorando cada vez mais e mais alto, e no entanto nada mais há fazer senão esperar.
Espera-se e desespera-se. Espera-se um milagre sem acreditar em Deus. Espera-se que mudem os ventos quando não corre uma aragem. A única coisa que se mantém é a esperança, a mesma que não saiu da caixa de Pandora, mas que os humanos de alguma forma conseguem armazenar, a par com as meias sem par.

A solução mais frequente passa muitas vezes por uma atitude conformista – perante a incapacidade de encontrar o par certo, a escolha é feita pela razão. Ou seja, escolhemos o que pensamos que melhor nos convém, relegando para segundo plano a paixão intensa, as borboletas no estômago, os momentos inesquecíveis feitos de beijos cinéfilos ao luar banhados de luz, graça e prazer. Arrumamos tudo na gaveta dos bons velhos tempos e entregamo-nos a uma segunda escolha. Vale a pena?
Geralmente não, porque ficamos sempre a perder. Felizmente o Cupido é mais forte e mais poderoso a lançar feitiços do que a fada das meias. Quando menos esperamos, a seta do malandro acerta no alvo e saltamos do tabuleiro para viver de novo a ilusão do par certo. Se esta resiste ou não à vertigem do tambor rotativo, isso já é para outra crónica.

Publicado por MargaridaRebeloPinto

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