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sexta-feira, maio 09, 2008

CRÓNICA DE SEXTA-FEIRA (56ª)

Um General sem medo? Obviamente mataram-no

“Se fosse eleito Presidente da República, o que faria do Presidente do Conselho? Obviamente demito-o!” esta frase foi peremptoriamente afirmada, fará este Sábado 50 anos, por Humberto Delgado que teve a coragem de se candidatar como independente às eleições de 1958.
Este Homem, oriundo das fileiras do próprio Estado Novo, ficou para sempre conhecido como o “General Sem Medo”, que ousou dizer que demitia Salazar, que se mostrou preparado para morrer pela liberdade. A sua personalidade galvanizava multidões, cativando-as pelo seu carisma, determinação, audácia e coerência de pensamento e posições. Era aquilo que não existe hoje na vida política portuguesa: ideias ideológicos distintos e consistentes, acompanhado de grande solidez argumentativa. O Homem correu o país inclusive Bragança, em que pessoalmente tive a oportunidade de ter visto, da última vez que tive em Bragança, a varanda onde discursou para as massas. Aliás o meu Tio e Sr. Bartolomeu Velho já tiveram a ocasião de me contar o que aconteceu naquele dia.
Contudo há um ponto a referenciar: concordo com muitos autores, quando designam Humberto Delgado como um “fascista democrático”, pois apesar da sua insistente apologia à liberdade, contudo nunca se demonstrou muito favorável à descolonização dos territórios ultramarinos.
Mataram-no em Espanha, na sequência de uma cilada protagonizada pela PIDE, não por ter sido alvejado a tiro, mas porque foi espancado até à morte. Salazar, após a descoberta do falecimento do General, acerca das dúvidas que se instalaram sobre as causas da sua morte, apenas disse fria e cruamente: “Um segredo que só a morte pode guardar com segurança.” Grande estadista, não é?!
Como já disse em outras crónicas, por razões cronológicas, obviamente não vivi a ditadura ou, melhor, o período do Estado Novo. Como também não conheci a Revolução, o PREC ou a entrada de Portugal na CEE. Mas acredito: se vivesse em 1958 gostaria imenso de ter ouvido os discursos de Humberto Delgado, porque se houvesse um político, dos nossos actualíssimos tempos, tivesse convicções, não receasse dos medos e não enveredasse pelo populismo simples e torpe, talvez, talvez o nosso povo e os jovens em particular demonstrassem maior interesse pela política, pelos partidos, pelos movimentos independentes, pelo parlamentarismo e pelas pessoas que realmente sabem fazer politica e que são verdadeiros nas suas promessas e nas suas decisões.
Foi publicado uma extensa biografia de Humberto Delgado da autoria do seu neto, Frederico Delgado Rosa.

By Afonso Leitão

4 comentários:

Anónimo disse...

O tema é ousado.HD não foi candidato independente.Foi o candidato único e oficial de toda a oposição ao regime.
Por isso ganhou o epíteto de General sem medo , pois sabia bem os perigos a que se expunha na sequência da sua mudança de opinião sobre o governo vigente.O Estado Novo era a continuação da Ditadura Militar de 1926,diluída na suposta respeitabilidade (!) da Constituição plebiscitada em 1933.
A questão colonial,na altura, não era ainda considerada de forma uniforme pelos vários grupos políticos de oposição ao regime,surgindo,em 74, como o 2º D da trilogia de Abril/descolonizar.
Só se comparam coisas semelhantes,
e 2008 é radicalmente diferente de 1958 em que duas palavras bastaram para fazer tremer o regime. Hoje a verborreia na praça pública é quase inconsequente.
Hás-de dizer-me de que varanda falou HD em Bragança, que eu não sei, embora me lembre do dia em que lá foi e da agitação na cidade e nos corações.

H.B. disse...

Foi da varanda da Pensão Moderno, em cima da entrada para o café. Este teu amigo com 12 anos apenas ,assistiu e viu tudo ,e para isso faltou à aula de Português do Señor Pacheco

Anónimo disse...

Estava em Bragança quando o nosso General Sem Medo por lá passou em campanha(!) e também faltei ás aulas ainda me lembro daqueles jactos que sobrevoaram a cidade ou na véspera ou no próprio dia, para amendontrarem o pessoal.
E quem se lembra da Nelinha que lhe foi oferecer um ramo de flores e que depois foi perseguida no Liceu?

Anónimo disse...

O Afonso troue um tema que é de dificil análise.
Mataram-no? quando , quem e aonde.
Recordo uma intervenção que o Prof.
Salazar fez na televisão e era mais
ou menos isto."E se as autoridades
espanholas conseguirem saber das
circunstância do crime até ao promenor é bem possivel virmos a saber por outros aquilo que a nós
nos competiria."
Cá o espero no verão (férias)um dia
para vermos mais com mais tempo e
conversarmos.
Ele veio já noite depois de um comício em Chaves e dormiu na
Pensão Moderno.
Depois de manhã foi o que já se
esperava.Vi bastante ,tive a sorte
de um intervalo e não faltei.
Um abraço.
BV.