...ontem á noite estava a cumprir serviço militar obrigatório, algures na região dos Dembos(forte bastião do MPLA) no norte de Angola. Estávamos a poucos dias do Natal de 66 e o n/aquartelamento era precário. Situava-se no alto dum morro que nós procurámos optimizar o mais possível, era noite escuro e a partir da 18 horas era certo sabido que haveria tiroteio pesado e ligeiro. As n/camas de campanha estavam num buraco dentro de terra e ontem estavam lá dois operadores de rádio para procederem às gravações das mensagens de Natal para os n/familiares e amigos.
A situação estava bastante tensa, o ambiente de cortar à faca..
Puseram-me então o microfone à frente e eu : daqui fala o alferes miliciano Barreira, desejando um óptimo Natal e um Ano Novo cheio de propriedades para toda a sua família e amigos, nomeadamente os meus netos e os meus amigos da Colheita63, para o sinhô Pacheco e Drº Faria, para o Lello , Gardel, Álvaro do Flórida, Bolha do Poças, sub-chefe Maurício, Carlinhos da Sé e minha madrinha de guerra...de repente rá-tá-tá, tiros, acordei, estava a arfar muito,apalpei-me todo não tinha dores nem sangue, abri os olhos , estava no meu quarto em Seia.UF que alívio ... a merda destes sonhos não me largam , até quando ....
Este sonho fez-me recordar e agradecer daqui a todos os meus amigos e familiares que sempre me acompanharam naquelas horas, cabendo aqui uma palavra de grande agradecimento aos colheiteros Niso e Isaías e a todos os elementos da CCAV1537.
12 comentários:
NO...
Helder,requisita já e põe-te à disposição do médico Dr Osório.
Ele sabe do que fala.Tu sabes o por que passaste.Trata-te.Eu,felizmente, não fui à guerra e desse mal não sofro,pelo menos por essa razão.Um abraço e felicito-te pelo incansável apuro na qualidade do blog. M.C.
Helder, não és só tu,muitos são os que passados tantos anos ainda sonham com aquela guerra que não era deles..
Bom, mas com o que o Paulo Portas vos paga..,valeu a pena!!!
Já não tenho palavras para elogiar o blog.Um abraço
Meu caro Helder:
o teu sonho fez-me lembrar a noite de Natal do ano de 1967,passado nas imediações de Buba- Guiné.Para que o pessoal do quartel passasse essa noite em sossego, eu com 2 grupos de combate fomos emboscar-nos nas imediações do mesmo, onde permanecemos desde o anoitecer até às 2 ou 3 da madrugada. Felizmente nessa noite também houve paz naquela zona, para todos quantos pertenciam àquela Unidade. Um abraço .Isaías
Mê arferes Barreira, acalma-te.
A guerra persegue todos, sobretudo aqueles que a não procuraram nem seguiram uma carreira belicosa, á época.
Fomos nós os "malicianos" e a chamada "tropa macaca" que aguentou quase tudo.
Essa guerra era injusta e só serviu para alimentar os ideólogos feitos de mentes doentes.
Felizmente que estão a desaparecer.
Só regressarão se lhe dermos asas para tal e adormecermos. É imperativo que a nossa geração dê os conselhos e transmita a experiência que tanto nos tocou.
Cá por mim, temino com uma frase de todos conhecida: " FASCISMO NUNCA MAIS ".
OBS.: A guerra acabou em 1974.
Sonha com aquilo que a vida nos dá de melhor.
Um abraço fraterno do sempre amigo, Jorge.
Bartolomeu diz.
Óh Helder depois desse sonho,acordas-te seco ou molhado?
Seco,responde o Helder ,pois ainda
vá lá como diabo.
Meu estimado amigo Helder.Tanto tu
como eu e todos os que por lá passamos, temos um mau bocado a contar.Fiz a comissão na Guiné e
prefiro o silêncio. Ainda hoje me
incomoda o som dos helicópetros.
(É um som de guerra e de morte) e
já lá vão 4o anos.
Enfim resta-nos a pensão de guerra
que deveríamos receber todos os anos....,pois é o Estado que tem
uma dívida com os combatentes e essa dívida é preciso assumi-la. Vamos aguardando dias melhores,
com calma e paciência.
A verdade será reposta.
Um abraço
OLD
Bartolomeu, meu "velho".
Não há pensão que redima e apague o passado.Para mim isso é colateral, e de somenos importância.
O que verdadeiramente temos que evitar é que essas coisas não se repitam.
Reconhecer os erros do passado, estudá-los e "lutar" para que nunca mais se repitam.
Um abraço velho de 40 anos, pelo menos.
Amigo Helder:Compreendo perfeitamente o teu sofrimento!De 1995 a 2000 fui Ch da Rep de Justiça e Disciplina da DJD/EME e pelas minhas mãos passaram milhares de processos de Deficientes e pude ler os relatos que motivaram as suas deficiências, que como compreenderás, foram situações bem dramáticas e que espelham bem a generosidade,espírito de sacrifício e abnegação de toda uma geração a quem o País tanto exigiu e pouco deu.Não pude igualmente deixar de recordar os momentos dramáticos que senti também na pele ( os militares de carreira também sofreram a tragédia que foi essa guerra e talvez até por isso se empenharam em acabar com ela à revelia do poder político)quando pela 1ª vez me desloquei ,enquanto Capitão Comandante da CCAÇ14, al K3 perto de FARIM visitar um destacamento da minha Companhia e onde fui cordialmente recebido com um ataque de morteiro e artilharia precisamente no momento que apeava do Unimog!!!Por milagre não era esse felizmente o meu dia!!!|Também sonho com esse e com outros dias bem dramáticos da minha vida.Para ti, para o Isaías, para o Bartolomeu e para todos os demais colheiteiros que pela guerra passaram aqui deixo um grande abraço de solidariedade.VMB
Quanto á pensão tenho a dizer o seguinte :
*Sabem que os Bancários e as Profissões Liberais(advogados) não foram abrangidos com essa Lei ?
*Sempre fui contra ela, pelo ridículo valor, alvitrando sempre que o valor disponível devia ser distribuído pelos escalões de IRS masi baixos.
*Precisei de 2 anos para complementar o tempo de serviço para a reforma, fui buscá-los ao tempo de tropa e tive que pagar cerca de 600 contos !!!!
E esta hein!!!!
Amigo Helder,não foste só tu a pagar..,todos os que precisaram desse tempo de tropa para o tempo de reforma pagaram-no a peso de ouro!!.Teria sido bem melhor fazerem essa contagem sem custos em vez da dita pensão ridícula...
Nada paga os transtornos causados a quem por lá andou e muito menos a quem por lá ficou..
Estas recordações penosas de um período negro da nossa História deixaram um legado perene nas nossas memórias, para além, de que essas feridas custam a sarar. Pesadelos, como este constituem um marco inquestionável das nossas vivências, sobretudo quando passamos um Natal separados da nossa eterna família. São episódios para contar e recordar, de preferência, sem mágoa.
Concordo contigo quanto à dita pensão(!!!!).Eu nem a requeri!!!Relativamente ao tempo de serviço realmente e inexplicavelmente ...paga-se...quer sejas Bancário ou Oficial do QP!
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