(http://comunicaradireito.esta.weblog.com.pt):
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POR FAVOR ALGUM PUDOR
O Governo socrático tem cortado, ou em certos casos finge que corta, no rol de beneficiados do Estado. Corta-lhes nas pensões excepcionais, obtidas com pouco tempo de casa, ou nos subsistemas de Segurança Social, dotados de regimes de comparticipações nas despesas médicas muitíssimo acima da do regime geral. Eu senti entre os jornalistas tanto júbilo como entre os cidadãos em geral. Nalguns casos eles próprios se arvoraram justiceiros e procuraram denunciar os privilegiados. Fizeram-se manchetes sobre políticos, funcionários e gestores públicos. Ouvi comentários acesos contra estes legais “sorvedouros” do escasso dinheiro do Estado. Eu própria vociferei contra as benesses.
Neste frenesim, os jornalistas calavam cobardemente - incluindo eu - os seus próprios benefícios no sistema de saúde. Usufruíam (ainda usufruem) de um regime de excepção - A Caixa de Providência dos Jornalistas - que lhe dava as melhores (senão a melhor) comparticipações.
Utentes do Serviço Nacional de Saúde, os jornalistas podiam recorrer ao privado e eram ressarcidos das despesas, nalgumas situações na totalidade se, por exemplo, se tratasse de uma cirurgia. Um caso que fala por si: um cidadão normal que precise de óculos, recebe da Segurança Social 75 cêntimos pela armação e 20 cêntimos para cada lente; um jornalista pode comprar a dita armação e as respectivas lentes, sem plafond determinado (há armações que chegam a custar 5 mil euros), e recebe 80% da despesa...
Calaram-se os jornalistas porque sempre pensaram que o Governo não teria coragem de mexer no privilégio da “classe” que o “fiscaliza”. Mas o Governo decidiu mesmo acabar com a dita Caixa já em Janeiro. Não creio que seja um gesto de coragem. A decisão foi baseada na ideia de que “aqueles fulanos e fulanas” (nós, os jornalistas) não vão ter coragem ou o desplante de defender o que aplaudem noutros sectores.
Ideia errada. O
Sindicato dos Jornalistas saiu em defesa do que classificou de “património” jornalístico e, num manifesto que já recolheu mil assinaturas (!?), justifica a manutenção da medicina convencionada e bem convencionada para os profissionais da comunicação social: “Jornadas intensas e prolongadas e informalidade de horários, com fortes impactos na saúde e na qualidade de vida destes profissionais, como demonstra a significativa prevalência de stress e de doenças do foro cardíaco, desgaste rápido e até morte precoce. Esta situação agravou-se nos últimos anos, com a crescente precariedade, um extraordinário aumento dos níveis de exigência, polivalência e de disponibilidade.”Neste frenesim, os jornalistas calavam cobardemente - incluindo eu - os seus próprios benefícios no sistema de saúde. Usufruíam (ainda usufruem) de um regime de excepção - A Caixa de Providência dos Jornalistas - que lhe dava as melhores (senão a melhor) comparticipações.
Utentes do Serviço Nacional de Saúde, os jornalistas podiam recorrer ao privado e eram ressarcidos das despesas, nalgumas situações na totalidade se, por exemplo, se tratasse de uma cirurgia. Um caso que fala por si: um cidadão normal que precise de óculos, recebe da Segurança Social 75 cêntimos pela armação e 20 cêntimos para cada lente; um jornalista pode comprar a dita armação e as respectivas lentes, sem plafond determinado (há armações que chegam a custar 5 mil euros), e recebe 80% da despesa...
Calaram-se os jornalistas porque sempre pensaram que o Governo não teria coragem de mexer no privilégio da “classe” que o “fiscaliza”. Mas o Governo decidiu mesmo acabar com a dita Caixa já em Janeiro. Não creio que seja um gesto de coragem. A decisão foi baseada na ideia de que “aqueles fulanos e fulanas” (nós, os jornalistas) não vão ter coragem ou o desplante de defender o que aplaudem noutros sectores.
Ideia errada. O
Quantos profissionais de outras áreas podiam subscrever este diagnóstico? Incluindo todos os que trabalham nos media, sujeitos aos mesmos horários e às mesmas exigências, e não são jornalistas e, por isso, excluídos do regime de excepção? Alguns dos dirigentes do sindicato e dos jornalistas que subscrevem o dito manifesto dizem-se de esquerda. Uma esquerda que defende o Serviço Nacional de Saúde universal, gratuito e exclusivamente público. E pensava eu, igualitário.
Calámo-nos cobardemente até agora. Porque foi bom enquanto durou. Até para os que se batem pela igualdade. A partir de agora, no mínimo, ficava-lhes bem algum pudor.
Paula Sá
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3 comentários:
É preciso ter coragem, para denunciar estas situações, bem como as outras más, mas ainda há muita gente que beneficia altamente dos sub-sistemas de saúde. O ideal seria nivelarem por cima ....
Nivelar por cima seria termos todos as condições dos jornalistasM.C.
Meus amigos, aqui está um comentário corajoso.
Não pode haver portugueses de 1ª., 2ª. ou 3ª..
As medidas que o Governo agora está a tomar já deviam ter acontecido há muito tempo.
Custe a quem custar, este é o caminho certo. Mas muito há ainda por fazer noutros campos. Estas medidas pecam por desfazadas no tempo, pese embora, os engulhos que causem a determinadas classes que, sempre foram previlegiadas, por se auto estatuirem como classes áparte e diferentes (com coberturas é certo).
Tiro o chapéu à Paula Sá.
Um abraço
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