Quebrara o marasmo e rompera a rotina da vila um distinto padre, dali natural e residente, e formado em Direito. Tinha no Fundão banca de advogado estabelecida.
Um dia criou, a expensas suas, um colégio particular para o ensino secundário. A partir dessa data, aqueles, muitos, que não tinham tido vocação para serem padres e tinham sido postos fora do seminário — ali bem ao lado, nos arredores da vila — passaram a ter uma nova oportunidade. Por uns tostões, quase sempre a crédito e a longo prazo, poderiam continuar os estudos. Pelo menos até ao tal 5º. ano. Se não era a meta desejada, servia já de ferramenta para os que se queriam empregar melhor. Durante os primeiros anos, o Colégio de Santo António foi instalado numa casa residencial no centro da vila. Ficava numa das ruas com maior número de lojas e comércio de todos os tipos. — A Rua da Cale.
Muito próximo ficava a tasca: “ O Primeiro de Janeiro”. Era afamada adega e taberna de muita qualidade. Tinha sempre magníficos vinhos e deliciosos petiscos. A estudantada mais velha, de fracos, reduzidos ou nenhuns cobres, por ali passava os tempos. Era praticamente o recreio do Colégio. Ali podia-se conversar sem fazer despesa. O espaço era grande e o dono da casa uma boa pessoa.
No diário convívio, habituaram-se os estudantes a conversar com gente simples e trabalhadora, que o enchia às segundas-feiras: o dia de mercado.
Durante a semana convivia-se com os habituais, os efectivos clientes. Eram gente heterogénea, congregados pelos prazeres do copo e dos petiscos num leque muito alargado de profissões. Iam desde o abastado ao vulgar comerciante, dos advogados liberais e populares, aos simples lavradores ou homens do campo, dos professores das escolas até a vários priores das aldeias do concelho.
Nos reservados da adega ou nas mesas dispersas, debaixo das sombras da latada do quintal, muitos ouviram pela primeira vez falar, diferente, de coisas e doutrinas oficiais, ensinadas nas escolas, nas gazetas e nas cartilhas. Falava-se de gente notável. De escritores e poetas. Comentavam e discutiam todos os assuntos e sempre com paixão, a Guerra Civil de Espanha, ali bem ao lado.
Com o mesmo entusiasmo comentavam os sucessos dos primeiros campeonatos do mundo em hóquei em patins e as vitórias morais da selecção nacional de futebol. Dirimiam-se diariamente as rivalidades entre o Sporting e o Benfica. Tinham ambos filiais na vila, desactivadas e em permanente ruína!
Um dia criou, a expensas suas, um colégio particular para o ensino secundário. A partir dessa data, aqueles, muitos, que não tinham tido vocação para serem padres e tinham sido postos fora do seminário — ali bem ao lado, nos arredores da vila — passaram a ter uma nova oportunidade. Por uns tostões, quase sempre a crédito e a longo prazo, poderiam continuar os estudos. Pelo menos até ao tal 5º. ano. Se não era a meta desejada, servia já de ferramenta para os que se queriam empregar melhor. Durante os primeiros anos, o Colégio de Santo António foi instalado numa casa residencial no centro da vila. Ficava numa das ruas com maior número de lojas e comércio de todos os tipos. — A Rua da Cale.
Muito próximo ficava a tasca: “ O Primeiro de Janeiro”. Era afamada adega e taberna de muita qualidade. Tinha sempre magníficos vinhos e deliciosos petiscos. A estudantada mais velha, de fracos, reduzidos ou nenhuns cobres, por ali passava os tempos. Era praticamente o recreio do Colégio. Ali podia-se conversar sem fazer despesa. O espaço era grande e o dono da casa uma boa pessoa.
No diário convívio, habituaram-se os estudantes a conversar com gente simples e trabalhadora, que o enchia às segundas-feiras: o dia de mercado.
Durante a semana convivia-se com os habituais, os efectivos clientes. Eram gente heterogénea, congregados pelos prazeres do copo e dos petiscos num leque muito alargado de profissões. Iam desde o abastado ao vulgar comerciante, dos advogados liberais e populares, aos simples lavradores ou homens do campo, dos professores das escolas até a vários priores das aldeias do concelho.
Nos reservados da adega ou nas mesas dispersas, debaixo das sombras da latada do quintal, muitos ouviram pela primeira vez falar, diferente, de coisas e doutrinas oficiais, ensinadas nas escolas, nas gazetas e nas cartilhas. Falava-se de gente notável. De escritores e poetas. Comentavam e discutiam todos os assuntos e sempre com paixão, a Guerra Civil de Espanha, ali bem ao lado.
Com o mesmo entusiasmo comentavam os sucessos dos primeiros campeonatos do mundo em hóquei em patins e as vitórias morais da selecção nacional de futebol. Dirimiam-se diariamente as rivalidades entre o Sporting e o Benfica. Tinham ambos filiais na vila, desactivadas e em permanente ruína!
Não havendo mais nada de interessante, dizia-se mal do comboio. Chegava sempre tarde e às más horas! Excerto do novo livro " Escritas na Areia"
Posted by Bernardino Louro
2 comentários:
Excerto muito interessante e impressivo. Escrita límpida e elegante que nos proporciona uma visualização dos ambientes da época. Gostei muito. Sigam-se mais excertos!
Lena Pires
Gostei do texto,pois alem de bem
escrito,faz-nos recordar o que não eramos e gostavamos de ser eno que
eramos bons.
Concerteza que já ouviu falar na
nossa palavra de ordem. CONTINUAR
Então em frente.
Bartolomeu Velho
Enviar um comentário