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domingo, abril 27, 2008

Aonde estavas tu , no 25 de Abril de 1974 ?

Quando amanheceu já era "Abril"!


Estáva em Bragança a 24 de Abril de 1974, no exercício das minhas funções de docente no L.N.B. Como habitualmente, após um dia de trabalho igual a tantos outros e depois do jantar, pelas 20h30, cumpria-se a rotina do encontro no café Flórida para tomar a bica e trocar impressões sobre o que de mais importante ocorrera durante o dia, sobre os lamentos da actualidade, as aulas e outras tantas coisa que íam preenchendo o nosso quotidiano numa cidade de província.
Por acaso, nessa noite, o grupo era bastante grande ( entre 15 a 20 pessoas, a maioria jovens professores do liceu e alguns amigos ) pelo que, depois de tomado o café, se resolveu como também era habitual noutra tantas noites, sair e ir " pregar para outra freguesia ".
Encontrar um local onde estivéssemos mais à vontade e pudéssemos fazer a barulheira que entendessemos sem termos a preocupação de estarmos a incomodar quem quer que fosse. O local escolhido foi o monte de S. Bartolomeu. Aí sim, poderíamos estar à vontade, fazer o barulho que quiséssemos que decerto não acordaríamos a cidade. Dentre os do grupo não faltava também quem pretendesse ficar mais afastado, pois adivinhavam-se uns " amores ainda que tímidos ", que preferiam naturalmente manter ligeira distância do grupo e trocar olhares e segredos sob o testemunho da lua e das estrelas! Lembro-me que todos estávamos muito bem dispostos e com vontade de ultrapassar e esquecer as eventuais contrariedades que íamos sentindo no dia a dia. Depois de nos arrumarmos muito bem pelos bancos que existiam no miradouro, em frente da capela, começámos a entoar desde logo um chorrilho de canções que só naquele num local recatado com aquele, poderiamos cantar. Bem longe, portanto, de ouvidos malévolos e delactores... não fôsse o diabo tecê-las! Lá fomos, noite fora, desfilando as canções do Zeca Afonso, do Adriano Correia de Oliveira , do Fanhais, do Manuel Freire e de tantos outros que só a nós e às estrêlas daquela noite poderiam entusiasmar.
Não poderei, no entanto, deixar de recordar uma canção que entoávamos muitas vezes, como que querendo fazer refrão e trampolim para um novo autor. Como eu me lembro tão bem: " Ai se esta rua... se esta rua fosse minha, eu mandava-a, eu mandava-a asfaltar..." E de autor em autor lá fomos cantando sempre e sempre com muito frenesim, noite fora, julgo que até cerca das três ou quatro da madrugada. E porque já era noite alta e o sono começava a espreitar começou a debandada e o regresso a casa! No dia seguinte o trabalho esperava-nos.
À distância de trinta e quatro anos pensando melhor nestas coisas, reflectindo mais a fundo sobre elas, até parece existir pré-munição!!!
Quem diria que nessa mesma madrugada, por volta das 7h00, a senhora da casa onde eu estava hospedado ( a saudosa D. Augusta Rocha ), me acordou com uma série de abanões, dizendo-me: aconteceu aquilo que o senhor tanto desejava, acorde! ( palavras textuais )! Eu, cheiinho de sono, não estava a perceber nada do que me estava a dizer. A revolução aconteceu, o governo caiu, continuava ela entusiamadíssima. Não tive outro remédio senão acordar!
Afinal, nesse dia, quando amanheceu já era Abril!


Viva o espírito de Abril!



N.B. Não fiz referência a nomes com receio de esquecer alguém.


Um grande abraço a todos.

By Francisco Almeida

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