Onde estava e onde estive.
Nessa época estava a trabalhar no Hospital Júlio de Matos, era Interno do 2º ano da Especialidade de Psiquiatria.
Tinha tido adiamento para tirar a especialidade e ir como Psiquiatra para a tropa. Nampula, era o meu destino!
No dia 24 de manhã, bem cedo, um amigo telefona e diz: Eh pá! Temos golpe de estado, ouve a rádio!
Liguei para o RCP, lembram-se dos noticiários desta emissora? Completamente diferentes dos “oficiosos” da Emissora Nacional.
Ouvi a música diferente, os comunicados do MFA (o que seria o MFA? Mas ter começado com o Zeca era bom presságio). E cumpri as indicações: direitinho para o hospital!
A meio da manhã como só ouvíssemos os comunicados que pouco adiantavam, um colega teve a ideia: quem vai ver o que se passa?
Claro, com o sangue na guelra – tinha 28 anos – disse: eu vou!
Fui com uma colega e amiga. Fomos sempre amigos durante o curso e estávamos ambos a tirar a especialidade de Psiquiatria.
Tinha um Mini, o celebre Mini. Descemos Almirante Reis e chegamos ao Terreiro do Paço. E o que vimos?
Tanques e tropa de um lado e tanques e tropa do outro.
Pensámos: quais serão os do golpe e os da situação? E andamos por ali, entre eles, sujeitos a levar um saraivada.
Depois é que vimos a imprudência cometida.
Passamos pelo RCP, lá estava a tropa.
E claro, mais tarde o Rossio, o Chiado e o Carmo. Lá vai Chaimite mais o Marcelo!
Foi um sem fim de emoções que extravasaram!
E nos dias, semanas e meses seguintes nem é bom falar.
Só sei que em minha casa “acampavam” franceses e francesas que nunca tinha visto, nem voltei a ver.
Vinham ver a revolução dos cravos!
Muito resumidamente, foi assim o meu dia vinte e cinco do quatro.
3 comentários:
Andámos perto! Eu cumpria o serviço militar no M.Exército pelo que só trabalhava a partir das 13h.Estava abolrtado em casa duns tios velhinhos e foi ele que me acordou ,pelas 10h, a dizer que ouvisse o rádio que havia uma revolução. Depois de assegurar o seu almoço com um restaurante em frente, contactei um camarada de armas no quarteirão pegado (Rua de Artilharia 1) em casa de quem almocei e fomos de autocarro até à Baixa.Nos Restauradores já se ouviam os primeiros acordes do MRPP.O Terreiro do Paço estava praticamente deserto, pela esquina das Finanças saía um grupo de Polícia de Intervenção, à porta do ministério aguarda um pequeno número de cumpridores mas a entrada não era permitida. Quando pud´emos subir, vimos logo ao cimo do 1º lanco o buraco por onde fugira o ministro pela madrugada.De oficiais apenas se viu um capitão do SG .Ao longe ouviram-se tiros,eram do Largo do Carmo. E como ninguém mandava nada, fomo-nos embora. Subi então ,sozinho, por ali acima.E uma das mais pungentes imagens que guardo desse dia, como que pedidas de empréstimo a um set de filmagens sobre a 1ª G.Guerra,é a de um pelotão da GNR , lúcidos da figura macabra que estavam a representar e que só aumentava a sensação de mal-estar dos passantes, como que pedindo desculpa daquele papel que lhes era imposto. Lancinante quadro a clamar por misericórdia ,perdão e caridade. E aí fui avenida fora a comprar todas as novas edições dos jornais que começavam a sair, mostrando orgulhosamente na 1ª página "Não visado pela censura". Na noite que seguiu tive a minha última dor de dentes!
No dis seguinte falei com o meu pai ao telefone .
Este anónimo que se recomenda e vos saúda!!mc
E o amigo por acaso ainda tem esses jornais? É que eu tenho vários, de 24 a 26 de Abril de 74, alguns deles já extintos, e estou a tentar vendê-los, estão em estado razoável. Se interessar ligue 960223942 (Almada)
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