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sábado, dezembro 06, 2008

Já o meu Pai , dizia ...

Isto é que é uma tropa!

Passa a ser grave quando às palavras de ordem sindicais se junta a ameaça das armas”.

O termo tropa tem um sentido pejorativo. As recentes peripécias à volta dos assuntos dos militares fizeram-me voltar a ele. Uma pequena declaração de interesses: sou coronel na reserva, fora de serviço, pertenci à primeira comissão dos capitães da Guiné, fui autor, com outros dois camaradas, da primeira carta enviada pelos capitães às autoridades de então a contestar uns decretos que tinham sido publicados sobre carreiras e que veio a desembocar no 25 de Abril. Só me represento a mim mesmo. Dito isto, aqui vai o que penso sobre a agitação entre os militares das associações sócio--profissionais: são reivindicações do dia-a-dia.

Tanto quanto percebi: promoções, salários, demora no pagamento dos recibos das consultas médicas, de óculos, próteses dentárias, exames e análises. Nada que não afecte outros cidadãos desarmados e à civil. Fala-se de equiparação a distintos corpos do funcionalismo do Estado: juízes, professores, médicos que, à custa de métodos que oscilam entre a chantagem e a cumplicidade, conseguiram do antecedente abocanhar melhores e maiores fatias do orçamento. Os militares pensam que chegou a sua vez de serem iguais a eles e de utilizarem as mesmas tácticas.

A questão é lamentável apenas quando os reivindicantes metem a dignidade na folha do deve e do haver. Passa a ser grave quando às palavras de ordem sindicais se junta a ameaça das armas e, pior ainda, nas mãos de elementos destrambelhados, fora do controlo, como fez, num momento infeliz, o general Loureiro dos Santos – cujas palavras são, no entanto, mais reveladoras de uma cultura do que de uma ameaça. Elas revelam quanto a cultura da culpa da sociedade e da desculpa dos prevaricadores penetrou fundo na ideologia dos nossos intelectuais, a ponto de um respeitado chefe militar a incorporar no pensamento.

Quando as atitudes de militares, vindos com armas na mão reivindicar os seus justos direitos, forem justificadas com o destrambelhamento causado pela invocação (exagerada) da fome das suas famílias, da falta de remédios para os seus doentes, pela vergonha da não promoção, estaremos todos à mercê duma tropa, como já estamos à dos assaltantes dos bancos e das ourivesarias, dos agressores de professores e juízes. Eles estão desculpados, mas nós, os cidadãos em geral, e a Democracia, estaremos em perigo. O pior, e para mim inaceitável, é a abusiva invocação do 25 de Abril neste processo, elevando reivindicações de secretaria e ameaças de recreio de escola à mesma categoria da acção que derrubou uma ditadura com quase meio século de iniquidades.

Emídio Rangel




1 comentário:

Anónimo disse...

O Emídio Rangel é coronel na reserva?...Receio que me esteja a escapar qualquer coisa...