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terça-feira, março 02, 2010

Aprender a gostar de poesia!

Durante mais de 15 anos saí à noite, depois de jantar, para dar uma passeata com dois amigos.
Um deles, licenciado em Clássicas, leccionava no Liceu.
Falávamos de tudo, preocupações pessoais, dia a dia nacional e mundial e de "coisas" relacionadas com cultura (livros, cinema, etc.).
Com ele aprendi ler e a gostar de poesia!
Como?
Com as fichas que dava aos alunos!
Vejamos um exemplo:

Em Florença, com a Fiama (1986)


Era em Florença, num verão sem usura.

A cidade, que nós víamos de S.Miniato,

desfazia-se em luz.

Nos labirintos do Jardim Boboli,

tu e um melro rente à relva

cantavam um para o outro.

Não sei qual das vozes era mais pura,

se a do fio de água que subia

no canto do melro ou, mais frágil

e rente ao chão, a tua.


Eugénio de Andrade,

Os Sulcos da Sede, 2ªed.Outubro 2001, p.33


Digo-vos frequentemente que a poesia não consiste em rebuscar palavras – mas na capacidade que alguns (os poetas) têm de encontrar situações ou de criar símbolos que nos surpreendam, deliciando-nos.

(A poesia é arte, logo, criação artificial da beleza. A literatura, como a música, o teatro - e, sobretudo, a ópera - são criações artísticas: tentativas humanas, para criarmos a Beleza. Uma flor é, naturalmente, bela - não é artística).

A primeira surpresa na poesia de hoje é, parece-me, a naturalidade da expressão. Vejam que não há, aqui, uma palavra menos comum... Tudo tão natural, que até parece fácil fazer poesia, assim...

1ª Parte: A introdução: localização da acção no espaço e no tempo: estamos em Florença, num verão despreocupado (sem usura: sem quaisquer preocupações materiais). E o poeta junta uma breve nota sobre a cidade, que se desfazia em luz...

2ª Parte: O desenvolvimento: o poeta concentra, agora, a sua atenção numa pequena cena que se desenrolava ali perto: tu e um melro cantavam um para o outro... Notem a intimidade desta cena: duas personagens (uma pessoa e um melro) tão deliciadas uma com a presença da outra que comunicavam, cantando.

3ª parte: Observemos, finalmente, a conclusão, que aqui é feita por um comentário: Não sei qual das vozes era mais pura...

VCD

Gostaram? Qualquer dia publico outra ficha, já que tenho autorização do autor!

4 comentários:

Rosa dos Ventos disse...

Mesmo sem fichas comecei a gostar de poesia desde criança e penso que também transmiti esse gosto aos alunos com algumas fichas não tão completas...
Continua a publicá-las porque ajudam bastante os mais afastados deste género literário...

Abraço

mc disse...

Tenho curiosidade.E vou acompanhar com gosto.

Anónimo disse...

Continua a publicar, eu continuo a ler com todo o gosto !
C.

Anónimo disse...

Apesar de já gostar muito de poesia, vou ler as fichas com muito gosto. Como a RV, também procurei transmitir esse gosto aos meus alunos.
Urze dos Montes