Tolentino de Nóbrega, correspondente do Público na Madeira, num comentário intitulado “A visita de Cavaco Silva à Madeira virtual”:
«O Presidente da República deixa hoje a Madeira, depois de uma visita oficial a esta região autónoma envolta em polémicas.
Desde o primeiro momento, como sempre fez, Alberto João Jardim, o governador e senhor da ilha, chamou a si o protagonismo da visita, antecipando-se a Belém na divulgação do programa a que mostrou não ser alheio.
Nem precisava de fazê-lo. O formato seguido, completamente distinto dos roteiros empreendidos pelo Presidente da República pelo país profundo, fazia antever uma vista de glorificação da sua obra.
Mais um tributo aos seus 30 anos de governação, acabados de completar, do que para assinalar os 500 anos, o motivo oficial da visita, que o Funchal irá celebrar no próximo dia 21 de Agosto. Para isso bastaria um dia, em vez de seis no arquipélago.
Nesta primeira vista oficial, o Presidente da República deveria dirigir-se à Assembleia Legislativa da Madeira, o órgão primeiro da democracia e autonomia na região, e, como salientou nos Açores, "a morada do pluralismo", por excelência. Por seu turno, como órgão representativo do povo da Madeira e do Porto Santo, o Parlamento regional tinha obrigação de receber e saudar o Presidente de todos os portugueses. Como se não chegasse, ontem, Cavaco ainda agradeceu ao Presidente da Assembleia Legislativa a oportunidade que lhe concedeu de se dirigir aos parlamentares madeirenses num jantar no salão nobre da câmara onde proferiu a sua primeira intervenção política.
Nessa qualidade, o Presidente da República não merecia ser envolvido na polémica com que Jardim armadilhou a visita, ao insultar e provocar a oposição como "bando de loucos", que Cavaco Silva aceitou receber, não na representação da República na região, o Palácio de São Lourenço, mas num hotel.
Infelizmente, cenas que põem em causa a qualidade da democracia repetem-se numa região onde o Presidente disse não encontrar défice democrático. Porque, alegou, a haver, os seus antecessores teriam tomado medidas. Só que a complacência dos anteriores presidentes da República significam isso mesmo: violação e incumprimento de leis gerais da República, desrespeito por órgãos de soberania e por instituições do Estado, desconsideração pelas oposições e minorias que o poder regional ofende e a quem retira direitos fundamentais. Situações que o "sr. Silva" bem conhece e que o Presidente da República, como garante do funcionamento das instituições democráticas também na Madeira, não pode ignorar.
Cavaco Silva optou por percorrer, a alta velocidade, a Madeira Nova de Jardim para apreciar obras megalómanas construídas pelas "tecnicamente falidas" sociedades de desenvolvimento que o Governo regional criou para ultrapassar os limites de endividamento. Por túneis, rotundas e vias rápidas, dificilmente poderia encontrar a outra Madeira, a dos atrasos económico-sociais. Onde vivem os madeirenses da exclusão social, do insucesso escolar, do elevado índice de abandono escolar e de analfabetismo, da toxicodependência, da criminalidade e da exploração sexual de menores.
Uma realidade que, independentemente da obra que todos elogiam, põe em causa o modelo económico, social e político levado a cabo por Jardim na Madeira, região que enfrenta factores de bloqueio e esgotamentos muito fortes para os quais o Presidente da República deveria alertar. Uma realidade que, resultante de uma opção por Hardware e betão, em vez de software e aposta nos recursos humanos, pode significar um elevado desperdício de recursos públicos e má identificação de objectivos.
Se não esteve na Madeira "como estrangeiro", como avisou à chegada, o chefe de Estado viu uma realidade virtual. O paraíso para inglês ver.»
(Via "Câmara Corporativa", 20/04/08)
«O Presidente da República deixa hoje a Madeira, depois de uma visita oficial a esta região autónoma envolta em polémicas.
Desde o primeiro momento, como sempre fez, Alberto João Jardim, o governador e senhor da ilha, chamou a si o protagonismo da visita, antecipando-se a Belém na divulgação do programa a que mostrou não ser alheio.
Nem precisava de fazê-lo. O formato seguido, completamente distinto dos roteiros empreendidos pelo Presidente da República pelo país profundo, fazia antever uma vista de glorificação da sua obra.
Mais um tributo aos seus 30 anos de governação, acabados de completar, do que para assinalar os 500 anos, o motivo oficial da visita, que o Funchal irá celebrar no próximo dia 21 de Agosto. Para isso bastaria um dia, em vez de seis no arquipélago.
Nesta primeira vista oficial, o Presidente da República deveria dirigir-se à Assembleia Legislativa da Madeira, o órgão primeiro da democracia e autonomia na região, e, como salientou nos Açores, "a morada do pluralismo", por excelência. Por seu turno, como órgão representativo do povo da Madeira e do Porto Santo, o Parlamento regional tinha obrigação de receber e saudar o Presidente de todos os portugueses. Como se não chegasse, ontem, Cavaco ainda agradeceu ao Presidente da Assembleia Legislativa a oportunidade que lhe concedeu de se dirigir aos parlamentares madeirenses num jantar no salão nobre da câmara onde proferiu a sua primeira intervenção política.
Nessa qualidade, o Presidente da República não merecia ser envolvido na polémica com que Jardim armadilhou a visita, ao insultar e provocar a oposição como "bando de loucos", que Cavaco Silva aceitou receber, não na representação da República na região, o Palácio de São Lourenço, mas num hotel.
Infelizmente, cenas que põem em causa a qualidade da democracia repetem-se numa região onde o Presidente disse não encontrar défice democrático. Porque, alegou, a haver, os seus antecessores teriam tomado medidas. Só que a complacência dos anteriores presidentes da República significam isso mesmo: violação e incumprimento de leis gerais da República, desrespeito por órgãos de soberania e por instituições do Estado, desconsideração pelas oposições e minorias que o poder regional ofende e a quem retira direitos fundamentais. Situações que o "sr. Silva" bem conhece e que o Presidente da República, como garante do funcionamento das instituições democráticas também na Madeira, não pode ignorar.
Cavaco Silva optou por percorrer, a alta velocidade, a Madeira Nova de Jardim para apreciar obras megalómanas construídas pelas "tecnicamente falidas" sociedades de desenvolvimento que o Governo regional criou para ultrapassar os limites de endividamento. Por túneis, rotundas e vias rápidas, dificilmente poderia encontrar a outra Madeira, a dos atrasos económico-sociais. Onde vivem os madeirenses da exclusão social, do insucesso escolar, do elevado índice de abandono escolar e de analfabetismo, da toxicodependência, da criminalidade e da exploração sexual de menores.
Uma realidade que, independentemente da obra que todos elogiam, põe em causa o modelo económico, social e político levado a cabo por Jardim na Madeira, região que enfrenta factores de bloqueio e esgotamentos muito fortes para os quais o Presidente da República deveria alertar. Uma realidade que, resultante de uma opção por Hardware e betão, em vez de software e aposta nos recursos humanos, pode significar um elevado desperdício de recursos públicos e má identificação de objectivos.
Se não esteve na Madeira "como estrangeiro", como avisou à chegada, o chefe de Estado viu uma realidade virtual. O paraíso para inglês ver.»
(Via "Câmara Corporativa", 20/04/08)
7 comentários:
Há um ditado antigo que diz "vale mais cair em graça do que ser engraçado".
O "general sem tropas" ,com ultrapasagens pela direita,cantar
a mula da cooprativa,chamar nomes a
quem lhe parece,etc.etc.parece mesmo que caiu em graça... "Lá"
O "enfant terríble" canta ,dança,
e nós aqui, mesmo sem lhe acharmos
graça,parece que estamos a ver passar o comboio.
Teresa, o que estará ainda mais
para vir. Aguardaremos.
Um abraço
BV.
Acabou por não ver a maioria que vota PSD, mesmo sendo maltratada!
Do "Sr. Silva" também não se podia esperar mais...
E nós vamos pagando a factura!
"Cavacadas",gostei do título!!
Cavacadas, trapalhadas, palhaçadas que não são novidade mas ainda assim chateiam . Mas,se é verdade o que aí se lê no4º parágrafo a contar do fim do texto (Infelizmente...), o PR achou bem preferir refúgio no sofisma da inacção dos anteriores PPRR à acção resultante do seu próprio juízo perante os actos e palavras do visitado. E assim faz de conta que está tudo bem!!! não é preciso ignorar nada, como o mesmo parágrafo refere a terminar.
De cedência em cedência, em cedência está-se já muito abaixo do grau zero da decência, da boa educação e do respeito.!"#$%&/()=?»
O Senhor Presidente já nem sequer dá pelo " défice democrático na região autónoma da Madeira "... Só esta me faria rir!
Basta abandonar as "vias rápidas, os túneis e mais túneis ( só da Ribeira Brava ao Funchal contámos 18 ) para se entrar na Madeira profunda onde podemos vislumbrar ainda muita gente bem longe de todos estes modernismos e com visível incapacidade de suportar a carestia de vida! Não estou contra a civilização e o progresso. Os habitantes da Madeira bem o merecemAprovo a obra feita. Mas desaprovo completamente o escamoteament da realidade, os insultos e o ultraje à inteligência daqueles que não querem ver o sol pela peneira!
O que na realidade me espanta é a completa inversão de poderes. Mais. A permissividade e a anuência daqueles que mais responsabilidades deveriam ter e afinal passam uma esponja sobre tudo o que é vexame insultuoso a todos os que democraticamente adquiriram o estatuto de representantes do povo.
Afinal, onde está a democracia?
O artigo anterior é da minha responsabilidade.
Peço desculpa pelo anonimato.
F.A.
Tão grave como haver duas Madeiras, uma mais rica para os turistas, e uma imensa de pobreza para a maioria dos madeirenses, é o tom insultuoso com que o soba da madeira trata os adversários políticos.
Nem o isso o Sr, Silva viu.
E nós, "cubanos do contnente", burros, continuamos a pagar.
Independência da Madeira, já!
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