A escola mudou, mudemos as regras
Vale a pena ler na íntegra a entrevista de François Dubet no último número da revista Sciences Humaines (199, de Dezembro de 2008), aqui disponível em linha. Umas quantas citações livremente traduzidas revelam porquê.
«Quer dizer que no decurso dos anos 1980-1990 o sistema mudou? Sim. Abrimos as portas do liceu não a 12% ou a 15% mas a 70% ou a 80% de uma classe de idade. Mudámos, portanto, de escola. Porém, no nosso imaginário, de educadores e de políticos, a escola continua a ser a mesma escola republicana, a precisar apenas de umas quantas adaptações. […] A massificação transformou a escola republicana em escola meritocrática, dizendo aos alunos: serão o que fizerem na escola. Isto mudou completamente a regra do jogo, que se tornou muito mais cruel, pois o falhanço escolar não quer dizer apenas que “eu não sou dotado para os estudos” mas antes que “eu vou falhar a minha vida”. […] Perante esta situação afirma-se na escola uma tendência reaccionária que considera ser necessário recuperar a cultura de “antigamente”, os alunos de “antigamente”, os professores de “antigamente”. O que me parece razoável, na condição porém de excluir 70% dos alunos… E, já agora, por que não reinstituir o exame de entrada no 2.º ciclo?
[…]
«Que fazer então para tornar a “igualdade de oportunidades” menos injusta? […] A escola não devia ser a única instituição capaz de distribuir socialmente os indivíduos. Há meios para distender um pouco o jogo, como por exemplo o desenvolvimento de uma real formação profissional, para que as crianças que falham na escola não sintam que a sua vida parou aí.
[…]
«Por que é tão difícil reformar a escola? [Porque] nunca fomos capazes de dizer, como o fizeram os países escandinavos que tão admiramos, que se “a escola mudou de natureza, mudemos as regras”.
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«A escola tende a pensar que o mal vem do exterior? Sim, a instituição tem tendência para externalizar os seus problemas […]: os professores transferem as responsabilidades para os pais, o capitalismo, a crise, a sociedade. Claro que a sociedade não é perfeita, mas este tipo de crença pode, mesmo com as melhores das intenções, ter resultados catastróficos.
[…]
«Tem propostas de reforma? Seria presunçoso da minha parte. Lembro apenas que num mundo globalizado, onde as nossas capacidades de acção política enfraqueceram, mantém-se um domínio onde temos toda a capacidade para agir: a educação. […] Há, no entanto, pistas para melhorar a escola. Sem idolatrar os inquéritos comparativos da OCDE (os inquéritos PISA), não podemos agir como se outros países não tivessem uma escola melhor e com mais equidade. Por exemplo, na maioria dos países que funcionam melhor, os estabelecimentos de ensino são mais autónomos do que em França, em particular no que respeita ao recrutamento de professores. Por outro lado, o ministério tem aí uma muito maior capacidade de controlo dos resultados.» [François Dubet]
in Outubro
1 comentário:
Li todo o texto, que é rico e interessante para quem queira saber de reflexões pertinentes sobre o ensino,visto por um professor e siciólogo francês, que termina dizendo: " Donc je crois qu'il ne faut pas écouter les siciologues.Il faut entendre ce qu'ils disent, mais sans que cette connaissance détruise les illusions nécessaires à l'action.Les enseignants ont raison de résister, y compris à mes propres discours."
Já que é apresentado como uma tradução, tenha-se em atenção que a resposta à pergunta :"A escola tende a pensar que o mal vem do exterior?" está certa na 1ª frase mas omite o contexto que é o filme que ainda está cá a correr sob o título "A Turma". Diz o texto:"...Je l'ai encore vu lors des débats autout d'"Entre les murs" auxquels j'ai participé: les enseignants rejetaient la faute sur les parents, le capitalisme, la crise,la société."
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