Gosto imenso de pessoas que olham para o céu. Daquelas que querem perceber os fenómenos invisíveis, e as que continuam a fazer perguntas pela vida fora, em lugar de se conformarem com as respostas que lhes foram dadas, como acontece com a maioria de nós.
Gosto, e tenho inveja. Invejo a qualidade dos seus cérebros, que conseguem arranjar espaço para a abstracção e o infinito. E que em lugar de se assustarem por serem apenas uma migalhinha no universo, sentem essa pequenez como um desafio. Invejo a sua capacidade de superar o medo de olhar para o azul de um céu de Verão, e o azul que vem a seguir a esse azul, e o azul que o continua, aceitando serenamente que o azul não tem fim, mas sem desistir de descobrir se é mesmo assim...In Destak de hoje (excertos)
1 comentário:
Azulllllllll no Quasi de Mario Sá Carneiro tb:
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se enlaçou mas não voou...
Momentos de alma que, desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
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