Segredo
Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.
Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...
Miguel Torga
Coimbra, 4 de Maio de 1956
Diário VIII
4 comentários:
Duarte, ensine-me o ninho,não faça segredo como o nosso conterrâneo Torga..eu protegerei e não estragarei. Votos de dia calmo. Bjs
Traz-me à memória aquele conto de Eça de Queirós onde o Menino Jesus, à mesa, conta aos pais uma aventura também "nidificada".
Tu que és queirosiano, claro que o conheces...
Os contos do Eça estão na outra casa que eu hei-de re-habitar daqui por uns tempos, por isso não sou capaz de pormenorizar melhor.
Abraço
Saber um ninho era, naquele tempo, uma arma poderosa que dava ao seu portador uma supremacia definitiva sobre os ignorantes.Era o puro acto de saber , era a vaidade e era o gozo que durava dias de acompanhar o crescimento dos bichinhos e que tanto podia continuar no prato(!) como transformar-se em decepção se voassem ou outro qualquer os levasse mais cedo.
E havia as pescoceiras para apanhar os pássaros, as formigas de asa que se guardavam no corno e com as quais se pretendia atrair os desconfiados... mas eu nunca soube um ninho!
Entretanto,seguindo a sugestão da RV fui ao Eça dos Contos e caiu-me o olho nesta receita que aqui deixo de sugestão para o almoço (o de hoje ou outro!):
.sopa de alcachofras e ovas de carpa;
.filetes de veado macerados em velho Madeira com puré de nozes;
.amoras geladas em éter.
E muito bom proveito!
Adenda: do conto "Civilização".
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