Um Reino Maravilhoso
(Trás-os-Montes)
(Trás-os-Montes)
Vou falar-lhes de um Reino Maravilhoso.
Embora muitas pessoas digam que não, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo. O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade, e o coração, depois, não hesite. Ora, o que pretendo mostrar, meu e de todos os que queiram merecê-lo, não só existe, como é dos mais belos que se possa imaginar. Começa logo porque fica no cimo de Portugal, como os ninhos ficam no cimo das árvores para que a distância os torne mais impossíveis e apetecidos. E quem namora ninhos cá de baixo, se realmente é rapaz e não tem medo das alturas, depois de trepar e atingir a crista do sonho, contempla a própria bem-aventurança.
Vê-se primeiro um mar de pedras. Vagas e vagas sideradas, hirtas e hostis, contidas na sua força desmedida pela mão inexorável dum Deus criador e dominador. Tudo parado e mudo. Apenas se move e se faz ouviro coração no peito, inquieto, a anunciar o começo de uma grande hora. De repente rasga a crosta do silêncio uma voz de franqueza desembainhada:
- Para cá do Marão, mandam os que cá estão!...
Sente-se um calafrio. A vista alarga-se de ânsia e de assombro. Que penedo falou? Que terror respeitoso se apodera de nós?
Mas de nada vale interogar o grande oceano megalítico, porque o nume invisivel ordena:
- Entre!
A gente entra, e já está no Reino Maravilhoso.
Miguel Torga
in Portugal
Embora muitas pessoas digam que não, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo. O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade, e o coração, depois, não hesite. Ora, o que pretendo mostrar, meu e de todos os que queiram merecê-lo, não só existe, como é dos mais belos que se possa imaginar. Começa logo porque fica no cimo de Portugal, como os ninhos ficam no cimo das árvores para que a distância os torne mais impossíveis e apetecidos. E quem namora ninhos cá de baixo, se realmente é rapaz e não tem medo das alturas, depois de trepar e atingir a crista do sonho, contempla a própria bem-aventurança.
Vê-se primeiro um mar de pedras. Vagas e vagas sideradas, hirtas e hostis, contidas na sua força desmedida pela mão inexorável dum Deus criador e dominador. Tudo parado e mudo. Apenas se move e se faz ouviro coração no peito, inquieto, a anunciar o começo de uma grande hora. De repente rasga a crosta do silêncio uma voz de franqueza desembainhada:
- Para cá do Marão, mandam os que cá estão!...
Sente-se um calafrio. A vista alarga-se de ânsia e de assombro. Que penedo falou? Que terror respeitoso se apodera de nós?
Mas de nada vale interogar o grande oceano megalítico, porque o nume invisivel ordena:
- Entre!
A gente entra, e já está no Reino Maravilhoso.
Miguel Torga
in Portugal
4 comentários:
Torga tinha razão quando isto escreveu. E a si agradeço o ter transcrito para um local onde muita gente que não leu Torga possa, não só conhecer um pouco da sensibilidade dele com avaliar do amor às origens trasmontanas
que também são as minhas, acho que também são as suas e que no todo , sáo de facto" UM REINO MARAVULHOSO" e que quem não o conhece "entre"e descubra os seus encantos, racantos, a sua gente!
Corrijo MARAVILHOSO e não como escrevi no cmentáro
Gosto muito do Torga prosador, sobretudo do contista.
Na poesia prefiro-o telúrico e angustiado na procura da perfeição do verso!
Abraço
Tere,
Claro que são as minhas e bem profundas.
A distância aguça a saudade dos cheiros e dos ruídos da nossa infância e adolescência.
RV,
Gosto do Torga contista, não muito do romancista, mas acima de tudo do poeta.
Aprecio a poesia pela forma e, principalmente, pelas emoções que despertam em mim!
Um beijo
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